Os médicos e a saúde no Brasil
A Luta

Os médicos e a saúde no Brasil

Compartilhe

19/10/2018 00:00

Por Maria Rita de Assis Brasil - Médica emergencista, presidente em exercício do Simers


Um viajante que aporte no Brasil a menos de 10 dias do segundo turno das eleições terá a plena certeza de que os nossos problemas se resumem a violência e segurança. Errado. Como médica e em uma semana em que lembramos muito do nosso exercício profissional, preciso advertir: a saúde é um imenso problema e a principal prioridade dos brasileiros, como apontou pesquisa Datafolha em setembro. A população está envelhecendo e com expectativa de vida crescente. Só essa condição exigirá aportes volumosos de recursos. As emergências superlotadas e a rede básica insuficiente nos dão os alertas de que não estamos preparados para enfrentar o futuro. Sem falar das doenças que voltam - como o sarampo -, que estavam controladas e até erradicadas graças à cobertura vacinal, que, por descuido, ausência de campanhas e até preconceito, despencou no país. Tenho acompanhado os programas dos candidatos, em busca de respostas claras sobre o que é possível fazer e não tenho visto ou ouvido quase nada. A realidade é de um orçamento que, claramente, não dá conta das demandas - o que envolve médicos e demais profissionais, equipamentos, medicamentos, tecnologias etc. Medicina é uma das áreas que mais avançam e ficamos maravilhados com novos tratamentos que salvam vidas, mas isso envolve investimento.

A verba para o SUS significa 3,7% do orçamento geral da União. Além disso, há a PEC do Teto, que limitará o reajuste das verbas à inflação por 20 anos. Enquanto isso, o que é dramático, gasta-se cada vez mais com juros e principal da dívida pública - mais de 50% da receita. Outro desequilíbrio: enquanto se projetam R$ 130,8 bilhões ao SUS neste ano, o que teoricamente abrange 100% da população, os planos de saúde (pagos por empresas e pessoas físicas) devem atingir quase R$ 200 bilhões em 2018, alcançando 47 milhões de pessoas. Portanto, é flagrante a desproporção entre o aporte privado e os gastos públicos para 200 milhões de habitantes. Os médicos detectam há tempo esses males da saúde brasileira e não desistem de lutar por melhores condições. Estamos nos serviços dando o melhor de nós, mostrando, ao lado dos pacientes, uma resiliência brutal. Esperamos que as intenções e as ações se sobreponham a interesses meramente eleitoreiros. Na luta pela vida, não podemos dividir, mas somar.


Tags:

Aviso de Privacidade

O Simers utiliza cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para melhorar a experiência de usuário. Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.

Ver Política