Uma boa relação médico-paciente é essencial para o resultado clínico de qualquer tratamento. Para o otorrinolaringologista e professor de Medicina da UFRGS, Otávio Piltcher, o problema é que uma boa parte dessa relação médico-paciente é oriunda da empatia criada no instante da consulta. “Esses momentos são essenciais para a boa formação da relação médico-paciente. Não há uma escola sobre isso. O resultado dessa relação é oriundo do que trazemos de berço, do que somos como pessoa, do dom de ser médico”.
Ter respeito, capacidade de ouvir o paciente e entender a demanda que ele está apresentando ao médico é essencial, na opinião de Piltcher, porque nem sempre essa necessidade está explicita nas palavras propriamente ditas pelo paciente. “É preciso ter capacidade e interesse de entender e tentar ajudar a pessoa que está doente. Independente da especialidade, o paciente tem que se sentir à vontade para se expor ao médico e ver na pessoa do outro lado da mesa a possibilidade de cura ou de melhora”, disse.
Quando a relação médico-paciente acontece, todos são beneficiados. “Às vezes, a consulta dura alguns minutos, mas o suficiente para desenvolvermos uma intimidade, um respeito, um elo de relação com o paciente, onde ambas as partes sairão ganhando”, destaca Piltcher.
“A nossa sociedade está cada vez mais carente de atenção, de afeto. A relação médico-paciente sempre foi essencial para a prática de uma boa Medicina, mas atualmente temos uma sociedade egoísta e agressiva e o médico tem que perceber a importância de preservar e se dedicar para conseguir ter boas relações com seus pacientes, independente da pressão que ele também vive na sociedade. Isso que nos diferencia hoje. É a capacidade de irmos além do nosso conhecimento técnico, de entender o que as pessoas estão demandando e isso só acontece através da relação médico-paciente”, ressalta o otorrinolaringologista.
Para os novos médicos, Piltcher diz que é preciso encontrar dentro de si as formas de lidar com sentimentos e a capacidade de absorver a ansiedade natural de ser médico. “Os alunos vão aprender vivenciando a Medicina na prática. É cada vez mais importante as faculdades possuírem professores com nível alto e que tenham como foco não só a pesquisa, mas o ensino do dia a dia, da prática, do atendimento. Isso é difícil porque as faculdades são mensuradas pela produção cientifica e não pelo nível de satisfação de pacientes”, concluiu.