A Gripe Espanhola foi a mais devastadora das doenças do século XX, infectando, em cerca de dois anos, mais de 600 milhões de pessoas.
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26/10/2018 00:00
A Gripe Espanhola foi a mais devastadora das doenças do século XX, infectando, em cerca de dois anos, mais de 600 milhões de pessoas. A estimativa do número de mortes chega a 40 milhões em todo o mundo.
A partir do dia 30 de outubro, a exposição "Gripe Espanhola: A marcha da epidemia", realizada no Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM) vai recuperar a trajetória centenária da doença, mostrando seus reflexos não apenas no contexto mundial, mas também como ela alterou a rotina dos moradores de Porto Alegre.
A epidemia
A epidemia foi marcada por três momentos. O primeiro, em março de 1918, apresentou mortalidade baixa e não despertou grande preocupação nas autoridades e na população. O segundo, em agosto do mesmo ano, é marcado pela expansão da doença pelo mundo e o aumento da mortalidade. Já o terceiro e menos virulento deles manifestou-se em janeiro de 1919, e estendeu-se até 1920 em alguns países.
Nesta exposição vamos apresentar o cotidiano de Porto Alegre durante os meses de outubro a dezembro de 1918, com a eclosão da epidemia na cidade. A partir de periódicos, documentos oficiais, imagens e objetos é possível retratar a organização das autoridades públicas, médicas e polícias no combate a doença, bem como o modo como a população recebeu essas estratégias e adaptou-se às mudanças do seu cotidiano.
O mundo e a Gripe Espanhola
O surgimento da Gripe Espanhola coincidiu com um momento conturbado no início do século XX. O mundo estava imerso na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). O movimento das tropas especialmente no território europeu facilitou a propagação da epidemia.
O Brasil entrou no conflito em outubro de 1917, declarando guerra ao Império Alemão. Em 1918, o governo brasileiro organizou e enviou uma Missão Médico-Militar para França. Fundar um hospital neste país e colaborar com a causa brasileira na Guerra eram os objetivos dos jovens médicos que integravam o grupo.
O inimigo invisível
A origem da gripe espanhola é incerta. Os primeiros registros da doença ocorreram em março de 1918, em campos de treinamento militar nos EUA. A maioria, porém, eram casos benignos. Logo, a doença se alastrou para diversos países europeus, como França, Alemanha e Espanha.
No final de agosto, a epidemia assume uma proporção alarmante com um aumento do número de infectados e na gravidade do quadro clínico das vítimas. Em setembro, a Gripe Espanhola chega ao Brasil, provavelmente a bordo do navio inglês Demerara que passou por Recife, Salvador e Rio de Janeiro com passageiros infectados.
Cientistas, médicos e autoridades de várias partes do mundo buscavam respostas para a epidemia. Como não havia medicamentos, os médicos se mobilizam, juntamente ao poder público, para criar estratégias a fim de combater o inimigo invisível. Devido ao desconhecimento do agente causador prevaleceram as medidas profiláticas individuais e sintomáticas.
Porto Alegre sitiada
As primeiras manifestações da gripe espanhola em Porto Alegre ocorreram no final de outubro. Com poucos recursos médicos disponíveis à época para o atendimento à população, a cidade se organiza dividindo seus cinco distritos em 33 quarteirões, para enfrentar a marcha da epidemia.
Cada quarteirão contava com um médico e doutorandos em medicina a postos para atender aos doentes. No auge da epidemia, o caos e o medo tomaram conta da população e centenas de pessoas deixaram a capital em direção ao interior, a fim de fugir da doença.
Locais de tratamento
Em 1918, Porto Alegre não contava com postos de saúde e hospitais suficientes para tratar o grande número de pessoas atingidas pela epidemia. À época, o serviço de atenção à saúde disponível na Capital resumia-se a cinco instituições: Santa Casa de Misericórdia, Hospital Beneficência Portuguesa, Hospital São Pedro, Hospital da Brigada Militar e Hospital de Isolamento São José. Para a remoção dos doentes, a cidade contava apenas com dois carros mecânicos e seis carros de tração animal.
A Gripe Espanhola uniu a Faculdade de Medicina de Porto Alegre (atual UFRGS) e a Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre em uma luta histórica contra a epidemia, com médicos reconhecidos e doutorandos que se desdobravam para atender à população doente. Para ampliar o espaço para os atendimentos, duas escolas foram adaptadas para receber os enfermos: Escola Souza Lobo e Escola Fernando Gomes.
Trajetórias Médicas
O número de pessoas procurando auxílio nos postos criados nos quarteirões aumentava a cada dia. A Gripe Espanhola não poupava ninguém, nem mesmo os médicos. Muitos padeceram com a doença e alguns perderam suas vidas em plena batalha contra ela.
O que podemos aprender com a Gripe Espanhola de 1918?
O maior legado pode ser a importância da prevenção. É inegável que houve um grande avanço tanto na alimentação quanto nas condições sanitárias à disposição da população, o que melhora a capacidade dos pacientes de resistirem à infecção.
Hoje, também temos acesso a melhores recursos, como os antibióticos, que permitem combater as infecções bacterianas, graças a pesquisas científicas, desenvolvidas por profissionais da saúde.
As epidemias de gripe continuarão existindo, só podemos esperar que tenhamos aprendido as lições da pandemia para dominar outra catástrofe mundial como aquela.
SERVIÇO
Evento: Lançamento da exposição: "Gripe Espanhola: A marcha da epidemia".
Quando: 30 de outubro, 14 horas
Local: Sala Rita Lobato do Museu da História de Medicina (MUHM) – Av. Independência, 270 – Centro – Porto Alegre.
Entrada: Gratuita
Realização: MUHM
O MUHM funciona de terça-feira a sexta-feira, das 10h às 18h e nos sábados e feriados das 14h às 18h.
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