Intimidação, apelidos pejorativos, constrangimento público e ataques físicos são alguns dos problemas enfrentados pelas vítimas do
bullying. Para evitar o problema, entrou em vigor no país há poucas semanas a lei que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática e prevê que escolas clubes e agremiações recreativas em todo o país deverão desenvolver medidas de conscientização, prevenção e combate ao
bullying. Para especialistas da área, o comportamento não deve ser tratado como “brincadeira de criança”, pois provoca graves sequelas em todos os envolvidos.
Segundo a professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRGS, preceptora da Residência e do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Ana Margareth Siqueira Bassols, entre as várias repercussões que podem ser associadas ao
bullying, estão distúrbios na saúde física e mental, assim como dificuldades de ajustamento escolar e social.
A primeira ação para reduzir os casos de
bullying é o reconhecimento de sua ocorrência, afirma a médica. Ela garante que a intimidação é hoje um dos sintomas mais preocupantes na escola e na sociedade. “Ele representa uma manifestação de violência na adolescência, na qual interagem de forma complexa fatores individuais, familiares e sociais. A vítima geralmente é identificada como alguém fora do padrão de um determinado grupo, enquanto o agressor é descrito em muitas pesquisas como aquele que humilha para esconder suas próprias limitações e considera sua agressividade uma qualidade, sentindo prazer e satisfação na dominação, no controle e no dano ao outro”, explica.
Muitas vezes desconhecidos dos pais e educadores, os casos de
bullying são cotidianos, especialmente nas escolas. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2015 mostrou que 20% dos estudantes brasileiros já praticaram esse tipo de agressão. O ideal, segundo a psiquiatra, é que as intervenções previstas no Programa de Combate à Intimidação Sistemática atinjam mais do que os indivíduos envolvidos. Além de vítimas e agressores, outros membros do ambiente escolar e social - alunos, pais, famílias, professores, escola e comunidade também devem ser incluídos nas ações.
Outra questão apontada pela especialista é a chamada “lei do silêncio”, que deve ser constantemente combatida. “As intervenções mais abrangentes são as que apresentam os melhores resultados. A aparente aceitação dos adultos, e a consequente sensação de impunidade, favorecem a continuidade do comportamento agressivo entre crianças e adolescentes. Uma avaliação abrangente da situação deve ser feita pela equipe escolar, contando com ajuda de especialistas, como psiquiatras, psicólogos e orientadores educacionais”, alerta a médica.