Por problemas de saúde a cirurgia bariátrica ou redução de estômago vem sendo bastante procurada por aqueles que não conseguem perder peso. A obesidade mórbida é uma doença grave, crônica e multifatorial, logo todos os pacientes candidatos a realizar esse procedimento deverão obedecer a critérios rigorosos de inclusão nos grupos pré-operatórios com o intuito de melhorar a saúde e a qualidade de vida.
Esse tipo de cirurgia está indicada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) para pacientes com IMC acima de 35 Kg/m², que tenham complicações como apneia do sono, hipertensão arterial, diabetes, aumento de gorduras no sangue, problemas articulares, ou pacientes com IMC maior que 40 Kg/m², que não tenham obtido sucesso na perda de peso com outros tratamentos. A cirurgia também é recomendada para a melhoria da autoestima, porém nesse caso não é feita pelo SUS.
Foi o que aconteceu com a gerente bancária Andreia Carvalho. Com peso acima do recomendado desde a infância, as dietas tradicionais nunca a fizeram perder mais do que 2 kg. O sonho de ser magra estava distante para quem pesava 110 kg com 25 anos de idade. “Sempre fui uma gordinha saudável, praticava esportes e não tive problemas de saúde, mas minha autoestima estava lá embaixo. Foi quando comecei a pesquisar sobre a cirurgia bariátrica”, revela.
No Rio Grande do Sul existem cinco serviços credenciados pelo SUS para realização de cirurgia bariátrica, são os hospitais da PUC, Conceição, Universitário Canoas, Clínicas e Santo Ângelo no interior do estado. Cada um desses hospitais possui uma equipe médica comandada por um cirurgião. A paciente antes da cirurgia passará por todo um processo preparatório que pode demorar até seis meses. Entre as consultas haverá encontros com endocrinologista, psicóloga, nutricionista, além da participação de palestras com o propósito de minimizar complicações inerentes ao procedimento cirúrgico. Estes encontros visam o completo esclarecimento do tipo de técnica a ser empregada, os riscos, as mudanças de hábito, entre outras normativas que os pacientes deverão seguir após a cirurgia. A avaliação com equipes multidisciplinar é mandatória.
A cirurgia pode ser feita por videolaparoscopia ou laparotomia (cirurgia aberta), conforme explica Fernando Rogerio Beylouni Farias, Presidente da SBCBM – RS (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica). “As duas técnicas mais empregadas são: o By-pass Gástrico que consiste basicamente na redução do estômago e no desvio do intestino, interferindo na restrição e absorção alimentar (técnica mista); e a Gastroplastia Vertical ou Sleev que consiste unicamente na redução do tamanho do estômago (técnica restritiva).”
Os pacientes que se submeterem a cirurgia bariátrica estarão aptos a realizar cirurgia plástica reparadora após um ano, procedimento este autorizado pelo SUS, desde que obedeçam aos critérios médicos pré-estabelecidos. Andreia não ficou com sobra de pele devido ao seu histórico de praticar exercícios físicos o que não aconteceu com a professora Deise Rodrigues. Hoje com o tão sonhado peso, 80 kg, ela chegou a pesar 179 kg. Devido ao excesso de peso Deise começou a ter problemas de saúde, dificuldades para caminhar, dores e deixou de fazer tarefas simples como tomar banho sozinha. Por insistência de amigos e familiares a professora buscou informações sobre a cirurgia bariátrica e entrou para a fila SUS. Como a espera era longa, Deise precisou entrar com pedido na Defensoria Pública devido ao agravamento dos seus problemas de saúde. Oito meses depois ela foi chamada para a cirurgia. “Fiquei com muita pele sobrando, ia até o joelho. Consegui fazer a retirada pelo SUS dois anos após a cirurgia. Depois fiquei na fila por mais um ano para fazer abdominoplastia. Na barriga eu tinha 4 kg de pele.” Agora, está na fila há um ano para a retirada da pele na região das coxas que para a mobilidade é mais urgente. Depois enfrentará mais uma fila para a retirada da pele dos braços e outra para os seios.
No auge dos seus 37 anos, Deise se diz orgulhosa e que todos esses procedimentos estão valendo a pena. “A cirurgia representa uma vida. Antes eu não saía de casa, tinha vergonha de mim, não conversa com ninguém. Fui obesa desde criança. Já não caminhava mais, não conseguia mais viver. Três meses depois da cirurgia saí de casa e até me emocionei quando consegui caminhar. Antes eu não ia até a esquina. Não tenho palavras para dizer o que representa na minha vida essa cirurgia. Ela me devolveu o direito de viver. Hoje sou realizada”.
Após o procedimento o paciente deverá seguir em acompanhamento multidisciplinar por no mínimo 18 meses. Dependendo do perfil do paciente e a técnica empregada, além de outros fatores como comorbidades prévias. “Faz-se necessária reposição de ferro e complexo vitamínico. Além disso, existem muitos casos em que os pacientes utilizavam medicamentos para doenças crônicas como diabetes e hipertensão arterial, e que não mais necessitarão tendo em vista que a perda de peso pós-cirurgia implica na estabilização dessas doenças ou até mesmo promovem a cura de tais patologias”, explica Fernando.
O reganho de peso em pacientes que realizaram cirurgia bariátrica deve ser considerado. Isso depende de vários fatores, como técnica cirúrgica empregada, adesão ao tratamento e acompanhamento pós-operatório pelo paciente, atividade física, dieta balanceada, acompanhamento nutricional e psicológico, entre outros fatores.
“Devemos frisar que a cirurgia bariátrica é um procedimento complexo e de risco, logo não existe uma rígida estimativa de tempo para realização da cirurgia sem a completa avaliação da equipe multidisciplinar”, destaca Fernando que completa dizendo que “atualmente a taxa aceitável de mortalidade em cirurgia bariátrica é menor do que 1%, desde que sejam seguidos todos os protocolos e que a cirurgia seja realizada por profissionais e centros devidamente habilitados”.