Quem nunca saiu de uma consulta e logo depois esqueceu de algumas recomendações ditas pelo médico? É exatamente isso que mostra uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos, apontando que entre 40% e 80% das orientações que os profissionais passam aos pacientes são imediatamente esquecidas, ou lembradas de maneira errônea. Essa estatística levou um médico norte-americano a desenvolver o estudo que examinou o efeito dos pacientes quando acessavam as notas dos seus respectivos médicos pelo
software Open Notes. Após a iniciativa, ficou constatado que as recomendações médicas eram mais lembradas e seguidas corretamente. No Brasil, ainda não há números concretos sobre a questão, portanto, médicos opinam como esse problema de fixação das informações pode ser minimizado.
Para o pneumologista e professor no curso de medicina na ULBRA, Roberto Tonietto, os dados apresentados na pesquisa norte-americana fazem parte de uma falta de comunicação entre médico e da forma que a consulta é realizada. “Normalmente, trabalhamos com 30% das informações lembradas, de acordo com outros estudos tradicionais. Na minha visão, há dois pontos para resolver esse esquecimento das recomendações. Primeiro: o desenvolvimento de uma relação de mais confiança do médico com o paciente. Segundo ponto, seria o que chamamos de plano de ação: é colocar o paciente de modo central do atendimento. Fazê-lo entender o que se passa e informá-lo que também precisa se cuidar, além da consulta. O paciente necessita compreender que nessa relação o principal beneficiado é ele, pois se trata também de prevenir outras doenças”, salienta Tonietto.
O proctologista e coordenador do curso de medicina da PUCRS, Lúcio Fillmann, acredita que a forma de atendimento e a proximidade entre profissional e paciente é a solução para minimizar o problema. “O estudo é interessante, pois realmente temos a clara impressão que muitas informações são esquecidas e isso acaba prejudicando o tratamento. Claro que há outros motivos para a não absorção do que foi dito como, por exemplo, as notícias ruins, porém, um atendimento mais próximo, gerando confiança, é o melhor mecanismo para enfrentar essa situação”, analisa Fillmann.
O prontuário também é apontado pelos médicos como uma excelente ferramenta de auxílio diante da dificuldade. As informações contidas nele são abertas ao paciente, porém, de nada adianta se esse documento estiver incompleto ou com informações muito superficiais. O documento completo é essencial. “Para diminuir o problema, além de o médico atender de maneira atenciosa, é necessário que tenha um prontuário bem preenchido, pois assim torna-se uma bela ferramenta auxiliar durante consultas e tratamentos”, enfatiza Tonietto.
Já Fillmann chama atenção para as informações que podem ajudar quando o paciente consultar com outro médico. “O prontuário é, sem sombra de dúvidas, muito importante para esclarecer e passar recomendações. Por isso que ele precisa estar sempre completo e com informações 100% corretas para até ajudar se, por acaso, um colega for atender aquela pessoa”, diz.
Porém, nos dias de hoje, em que a tecnologia está cada vez mais avançada, o médico gastro e sócio-diretor da empresa Sisqualis de soluções tecnológicas, Guilherme Sander, ajudou a desenvolver um aplicativo que permite, entre outras funções, o compartilhamento das informações do prontuário com o paciente, chamado “QWER”. “A ideia é que os pacientes são donos do seu prontuário. Eles definem quais os médicos que podem ter acesso as informações do tratamento. Então, através do aplicativo, as pessoas têm o controle dos seus médicos, tanto aqueles que possuem acesso no prontuário longitudinal ou focado em ações específicas”, explica Sander.