05/07/2017 10:06
Os números reforçam o que a realidade de quem utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS) demonstra: enquanto cada vez mais usuários buscam atendimento na rede pública, o número de leitos disponíveis só diminui. De junho de 2015 até hoje, 631 foram fechados no Rio Grande do Sul, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
Vale ressaltar, no entanto, que ainda não entraram na conta os hospitais Parque Belém, de Porto Alegre, e Silvio Scopel, de Cerro Branco, que encerraram suas atividades nos últimos meses. Juntos, eles ofereciam aproximadamente 170 leitos do SUS. Ou seja, o número total nos últimos dois anos chega a cerca de 800.
Mesmo o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), reconhecido como um centro de excelência, deixou de contar com cinco leitos no início do ano – e o prognóstico para o futuro não anima. Em declaração recente, a presidente da instituição, Nadine Clausell, admitiu que novos fechamentos precisam ser considerados no horizonte para que se busque o equilíbrio nas contas.
Aumento na demanda do SUS
No mesmo período, o número de beneficiários de planos de saúde tem diminuído no país. Só nos últimos dois anos, principalmente por conta do agravamento na crise econômica e do aumento no desemprego, quase 2,7 milhões de pessoas abandonaram a chamada saúde suplementar, de acordo com a Agência Nacional de Saúde (ANS).
Como consequência, a busca por atendimento no SUS aumenta e gera um descompasso ainda maior entre oferta e demanda, em um sistema que deveria atender a todos.
Crise acentuada na saúde
Na análise da vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Maria Rita de Assis Brasil, hoje a situação do leito hospitalar está mais grave do que nunca e é preciso de um olhar atento da gestão para os problemas da saúde, que tendem a se agravar.
No caso de Porto Alegre, além do fechamento de leitos e da diminuição do número de usuários na saúde suplementar, é preciso considerar a situação das emergências, que tem convivido com a superlotação. Em resposta, deixam de receber novos pacientes ao atingir um número considerado limite.
“Com isso, estão sendo represados nas unidades de pronto atendimento pacientes que não conseguem avançar na sua investigação e tratamento”, reforça Maria Rita. Por consequência, não só seus casos ficam mais graves, como também se torna iminente o risco de morte. “Tenho dois exemplos bastante recentes de dois meninos, um de 14 e outro de 16 anos, que quando chegaram ao leito hospitalar já não tinham mais viabilidade. Eram duas mortes evitáveis. Essa é uma denúncia grave, mas também um reflexo da realidade que temos enfrentado diariamente”, completa a vice-presidente do SIMERS.