Somente em 2016, o Ministério da Saúde registrou 27.358 casos de hepatite C no Brasil, um total de 13,3 por 100 mil habitantes. Apesar da alta prevalência da doença, que desencadeia inflamação lenta e gradual do fígado, o tratamento evoluiu ao longo dos anos e, hoje, garante ao paciente resultados mais eficazes – incluindo a possibilidade de cura.
Importância do diagnóstico precoce
Na maioria das vezes, a hepatite C é assintomática e só apresenta sinais mais claros de sua presença quando o quadro já está avançado. Além disso, o médico Angelo Alves de Mattos, professor titular de Gastroenterologia da
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica que cerca de 70% dos pacientes infectados podem desenvolver a forma crônica da doença, capaz de evoluir para cirrose (20% dos casos) – e até mesmo câncer de fígado – se não tratada.
Ou seja, identificar a presença do vírus da hepatite C (também conhecido como HCV) o quanto antes é o melhor modo de evitar complicações. “O desafio é tornarmos visível uma população grande de indivíduos que estão infectados e não sabem, para que essas pessoas possam procurar auxílio médico. Afinal, se trata de uma doença silenciosa”, completa.
O diagnóstico da hepatite C é feito de forma rápida, através do teste chamado anti-HCV. Ele identifica no sangue a presença de anticorpos que tentaram combater o vírus e pode ser realizado gratuitamente através do Sistema Único de Saúde (SUS).
O consumo de drogas, o compartilhamento de objetos como alicates e tesouras e até mesmo o sexo sem proteção aumentam as chances de contágio. Mas o professor da UFCSPA recomenda que todas as pessoas com mais de 40 anos conversem com seu médico e busquem realizar o teste.
O principal motivo de infecção, além do consumo de drogas ilícitas, é a transfusão de sangue e hemoderivados realizada até o início da década de 1990, quando não existiam marcadores para rastrear o vírus, que só foi descoberto no fim dos anos 1980.
Eficácia no tratamento da hepatite C
Até algum tempo atrás, a capacidade de resposta das medicações disponíveis era pequena, e o tratamento, penoso para o paciente. Hoje em dia, as drogas disponíveis são utilizadas por via oral e geram menos efeitos colaterais. Dependendo do tipo de vírus da hepatite C (existem diversos genótipos do HCV) e do estágio da doença, o médico pontua que a eficácia pode ultrapassar 90%. No início da década de 1990, girava ao redor de 10%.
“Esses remédios, de acordo com o estágio da doença, são fornecidos gratuitamente no SUS”, acrescenta. Ou seja, o cenário atual de avanços deve servir como um incentivo para que as pessoas façam o teste e, em caso de resultado positivo, iniciem o processo de tratamento, quando indicado.