20/01/2016 16:31
Dentro da programação do Fórum Social Mundial 2016, a Associação Brasileira em Defesa dos Usuários de Sistemas de Saúde recebeu nesta quarta-feira (20) os psiquiatras e diretores do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul Bruno Costa e Roberta Grudtner. O debate ‘Desafio da Saúde Mental’ foi mediado pelo também diretor do SIMERS Germano Bonow. As presidentes da Abrasus, Terezinha Alves Borges, e da Sociedade de Apoio ao Doente Mental, Carmen Lia Silveira Marino, e o voluntário do Centro de Valorização da Vida, o médico Vitor Alfredo Stumpf, prestigiaram o painel, também aberto à população.
Bonow abriu o evento criticando a política nacional de saúde mental, que desassiste a população. “Nos últimos anos, foram fechados 90 mil leitos psiquiátricos no país. Hoje, são pouco mais de 30 mil. Enquanto isso, a população cresceu o equivalente a uma Argentina”, comparou. O médico citou dados que apontam que 60% da população latino-americana não consegue acesso aos serviços de saúde mental. O número salta para 70% quando incluídos os que buscam tratamento para dependência de álcool e outras drogas. Segundo ele, o número de óbitos relacionados a transtornos psiquiátricos mais que dobrou nos últimos anos, e as doenças mentais também são responsáveis por uma série de afastamentos do trabalho. “A questão da saúde mental existe”, decretou.
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Para Bruno Costa, o tema do debate não poderia ser mais verdadeiro: “Saúde mental no Brasil é um desafio, e não precisava ser. Mas minha esperança é que esse desafio seja aceito”. O especialista entende que a redação da Lei da Reforma Psiquiátrica é “perfeita”, pois determina que “a internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado e que caracterize os seus motivos”, e aponta que é um direito e dever do psiquiatra encaminhar o paciente em estado psicótico para internação. Porém, o que foi previsto não foi implantado ao longos destes anos.
Ele faz um paralelo entre os sentidos da alienação, que serve para descrever a loucura, mas também o desconhecimento, inclusive sobre a saúde mental. “Conhecer a realidade brasileira, as condições socioeconômicas, o acesso a tratamentos é um primeiro esforço para não ser alienado. Reconhecer os sintomas das doenças é uma questão técnica, daí faz-se o diagnóstico, mas tem que encaminhar soluções.”
Roberta Grudtner também abordou o diagnóstico e suas técnicas, e frisou a importância do médico nesse processo: “Para as doenças mentais não existe um teste, um exame de sangue que diga que a pessoa tem depressão, por exemplo. Na área de psiquiatria, a ferramenta é o médico, através das classificações de demências ou transtornos psicóticos, por exemplo. E cabe ao médico identificar a necessidade de internação”. Roberta atende no Hospital Psiquiátrico São Pedro e luta contra o desmonte e o estigma da instituição. “As pessoas se assustam quando digo que trabalho no São Pedro. E eu sempre digo que ali não é um manicômio, é um hospital especializado, de referência, que trata pessoas e forma profissionais, através da residência em Psiquiatria.”
Para ela, o maior avanço na questão da saúde mental não foi a lei, mas a própria psiquiatria, e é preciso haver espaços para os diversos tipos de tratamentos necessários. “Os CAPS não são substitutivos ao hospital, mas complementos. Temos que ter uma rede para atender dificuldades que a rede não cobre.” Estima-se que 6% da população brasileira sofre de transtornos mentais, sendo metade disso de dependência de álcool e outras drogas. “A maior parte dos casos, quase 80%, poderia ser resolvida na atenção básica, com as condições adequadas. Mas alguns vão precisar do encaminhamento ao médico especialista e até de leito hospitalar, e vão encontrar dificuldades. Este é o caso quando há risco de suicídio, que hoje representa a segunda maior causa de morte de jovens de 15 a 28 anos no mundo.”