Além de estudar a anatomia humana, tratamento e prevenção de doenças, os futuros médicos também aprendem sobre Deontologia Médica na faculdade. Na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, os alunos participam de aulas teóricas, que abordam assuntos relativos às escolas filosóficas, de atividades teórico-práticas, que discutem casos reais, e assistem palestras de representantes de instituições ligadas à Medicina.
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul já foi um dos convidados para as aulas da universidade. Na ocasião, a Assessoria Jurídica do SIMERS apresentou a entidade e falou sobre a judicialização da Medicina. “Começamos a convidar palestrantes de outras disciplinas e de outras instituições em 2015 e a experiência foi muito satisfatória, pois os palestrantes dominam com muita propriedade os temas propostos”, ressalta o professor da disciplina na UFCSPA, Ygor Ferrão.
Nas aulas, são abordados os conceitos deontológicos e bioéticos fundamentais e sua aplicabilidade na prática diária do profissional e do estudante de Medicina, como conta Ferrão. “Pretende-se familiarizar o aluno com abordagens e conceitos básicos utilizados ao se estabelecerem as dimensões éticas, morais e legais da prática profissional”, completa.
A disciplina de Deontologia da UFCSPA foi planejada pelo professor e médico José Geraldo Vernet Taborda e está na grade curricular do segundo ano da Medicina. Cerca de 90 alunos, divididos em duas turmas, estudam a matéria ensinada por Ferrão e pela médica Carolina Blaya Dreher. Segundo o professor, o aluno tem a oportunidade de aprender os conceitos e a diferença entre o ético, o moral e o legal, aprender a desenvolver métodos de abordagem na tentativa de solucionar conflitos morais e conhecer as normas legais brasileiras referentes à prática médica e aos principais temas éticos e bioéticos. “Pela forma como foi montada, a disciplina visa não apenas ‘informar’ os alunos, mas mostrar como é importante sua ‘formação’ como médicos e membros atuantes de uma sociedade que deposita muita esperança em suas atuações profissionais, pessoais e sociais”, afirma.
Durante as aulas, discussões éticas de casos estão constantemente presentes. Ferrão afirma que nem sempre existe resposta certa ou errada para os debates. “Na maior parte das vezes há respostas mais adequadas e menos adequadas para cada situação ou dilema ético”. Ele diz que isso pode frustrar os alunos, ainda jovens que preferem respostas mais certeiras. “As questões éticas precisam ser analisadas individualmente. Cada caso é um caso, embora ‘fazer a coisa certa’ seja sempre o melhor caminho”, explica o professor, que ressalta que uma das maneiras para isso é dominar as técnicas médicas aprendidas durante o curso. Para ele, o ideal seria que a disciplina de Deontologia fosse ministrada novamente ou de forma mais aprofundada no final do curso, quando os alunos já tivessem contato com pacientes e vivenciassem dilemas éticos na prática.
A ética também é abordada em outras disciplinas. O professor acredita que os aspectos éticos estão implícitos na maioria das aulas da faculdade, mas nem sempre fazem parte dos programas ou planos de ensino. “Nas aulas de anatomia, em respeito às pessoas que doaram seus cadáveres para a ciência, não se permite fotografias ou selfies que não sejam com a finalidade de aprendizado. Isso é dito e respeitado, mas não há uma aula específica sobre isso”, explica.
Ferrão propõe que na disciplina sejam debatidos temas mais frequentes na prática médica. São discutidos assuntos relevantes na ginecologia e obstetrícia, como anticoncepção e aborto, tratamentos paliativos e arbitrários, atestado médico, visitas domiciliares e também o Código de Ética Médica.
“De forma técnica, científica, explanativa e interativa, tentamos mostrar não o melhor caminho, mas um caminho mais adequado, que respeite o bom senso e que privilegie, não apenas o ser humano, mas o contexto médico-profissional, familiar e social em que vivemos”, destaca.