O transtorno mental é a manifestação de uma doença que tem base biológica nas emoções, condutas e sentimentos de um individuo. Mas o que delimita a fronteira entre o normal e o patológico é o prejuízo persistente que tal emoção/conduta causa na vida de uma pessoa. “Um torcedor triste com seu time pode até ter dificuldade em trabalhar após perder um campeonato, mas tal prejuízo é discreto e cessa após alguns dias. Se ele estiver deprimido (base biológica), ele pode ter uma dificuldade persistente em trabalhar, ou seja, tem que se esforçar mais para realizar as atividades (depressão leve), ou a qualidade do trabalho cai, além de ter que realizar maior esforço (depressão moderada) ou mesmo fica incapacitado a trabalhar e falta ao serviço (depressão grave). O mesmo vale para o uso recreativo de álcool, que se acarretar em prejuízo, seja pelo aumento do peso (engordar), seja por uma multa por dirigir após o consumo, por exemplo, passa a ser então classificado como um transtorno” destaca o psiquiatra Rafael Henriques Candiago.
Recentemente, casos mais leves começaram a receber nomes e se tornaram passíveis de tratamento, o que aumentou o universo potencial de pessoas com problema mental. Nas redes sociais surgiu uma manifestação apontando que crianças/ pessoas tomam mais medicações como Ritalina e Rivotril do que o necessário.
Conforme explica Candiago, o que existe no Brasil ainda é uma grande desassistência dos problemas mentais. “A Organização Mundial da Saúde estima que entre as doenças mais graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar, mais de 50% dos casos estão sem tratamento. Um novo diagnóstico leva décadas para ser aceito na comunidade médica e deve ser validado em vários países, por estudos epidemiológicos, antes de ser utilizado pela classe médica. No máximo alguns subgrupos populacionais financeiramente mais favorecidos podem estar recebendo algumas prescrições a mais, mas, se utilizarmos critérios técnicos, a realidade é bem diferente. Por exemplo, os boatos sobre o abuso da Ritalina nasceram da divulgação sobre um aumento de 500% na utilização do medicamento no Brasil e que isto seria um indício de supermedicação”.
A prevalência de déficit de atenção e hiperatividade entre os 6 e 15 anos é 5% em qualquer país do mundo. Pelo IBGE, são mais de 17 milhões de crianças nesta faixa etária no Brasil, e 5% destas são 860 mil crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Para Candiago, em relação ao Rivotril, “pode haver de fato uma percepção de prescrição exagerada do mesmo para qualquer patologia”.