O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) em conjunto com a Sociedade Gaúcha de Clínica Médica traz uma série de informações relevantes para o manejo e atenção com pacientes em privação prolongada de água e alimentos. Situações de tragédia humanitária, como a que ocorre no Rio Grande do Sul, têm efeitos profundos e complexos sobre a saúde. O manejo dessas pessoas envolve uma compreensão detalhada dos distúrbios hidroeletrolíticos e suas implicações clínicas.
Distúrbios Hidroeletrolíticos
A desidratação severa pode levar a distúrbios no sódio e potássio, ambos essenciais para a função celular. A hiponatremia hipovolêmica pode surgir devido à retenção de água livre, influenciada pelo hormônio antidiurético (ADH), enquanto a hipernatremia geralmente está associada à desidratação. Por outro lado, os distúrbios do potássio podem variar desde a hipocalemia, resultante da perda de potássio e da contração do volume intravascular, até a hipercalemia, especialmente se houver lesão renal aguda.
A lesão renal aguda é uma preocupação significativa, podendo levar a acidose metabólica e hipercalemia. Esses distúrbios são graves e podem ser fatais se não gerenciados adequadamente. Além disso, o magnésio e o cálcio devem ser monitorados, assim como os níveis de bicarbonato para avaliar o estado ácido-base.
Anamnese e Avaliação Clínica
É fundamental realizar uma anamnese detalhada para obter informações sobre comorbidades e medicações em uso, pois estas influenciam diretamente o manejo dos fluidos e o tratamento dos distúrbios eletrolíticos. Compreender o histórico médico do paciente permite uma abordagem mais personalizada e segura.
Exame Físico e Sinais de Desidratação
Os sinais clínicos de desidratação incluem pele seca, mucosas secas, diminuição da turgência da pele (o tempo de retorno após pinçamento da pele é prolongado), olhos encovados, e em casos severos, hipotensão ortostática e taquicardia. A avaliação desses sinais é fundamental para o diagnóstico e orientação terapêutica.
Manejo da Hidratação
A reidratação deve ser iniciada cuidadosamente, usando soluções isotônicas como a solução salina normal ou lactato de Ringer. É crucial evitar a administração excessiva de líquidos, particularmente em pacientes com redução da função renal. Uma hidratação excessiva pode causar hipervolemia, com subsequente extravasamento de líquido para o terceiro espaço, levando a condições como edema pulmonar e derrame pleural, e potencialmente resultando em insuficiência respiratória.
Monitorização da Volemia
A monitorização do nível de consciência, do estado geral, da hidratação das mucosas, da perfusão periférica e dos sinais vitais são parâmetros importantes e de fácil avaliação à beira do leito.
A monitorização do débito urinário também é um parâmetro simples, porém de grande importância para guiar a terapêutica, visando manter uma produção de 0,5 a 1 ml/kg/hora. Além disso, se disponível, a ecografia à beira do leito com aparelhos portáteis pode ser extremamente valiosa para a avaliação da volemia e para guiar a administração de fluidos, especialmente em pacientes com condições cardíacas ou renais preexistentes.
Considerações Especiais
Pacientes idosos e aqueles com doenças crônicas, como renais, cardíacas, pulmonares, neoplasias ou estados de fragilidade clínica, são particularmente vulneráveis. A monitorização contínua dos sinais vitais, eletrólitos séricos e volemia é essencial para ajustar a terapia de fluidos e evitar complicações.
Esses princípios garantem uma abordagem segura e eficaz ao manejo de pacientes em estados críticos de desidratação e desequilíbrio eletrolítico, prevenindo a progressão para condições mais graves e potencialmente fatais. A equipe de saúde deve estar preparada para ajustar o tratamento conforme a resposta do paciente e as condições clínicas evoluírem.
Atenção para os pacientes graves
A maior parte dos pacientes pode ser cuidado no próprio local. Pacientes com sinais de maior gravidade devem receber um cuidado básico de suporte de vida e priorizar que recebam atendimento em centros.
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