O que seria possível fazer com R$ 685 mil em um ano, especialmente na área da saúde pública? Por exemplo, esses recursos manteriam funcionando, durante aproximadamente um ano e meio, uma Unidade de Saúde de Família. Também seria possível comprar os remédios básicos que faltaram nas farmácias públicas de Porto Alegre no início desse ano. Pois saiba que esse montante é usado pelo governo federal, por meio do Congresso e Itamaraty, para alugar salas VIPs, com diversas regalias, no aeroporto de Brasília, para atender parlamentares, servidores e autoridades estrangeiras em visita ao Brasil.
Essa foi a denúncia repercutida por alguns meios de comunicação nos últimos dias, apresentando as mordomias da Câmara dos Deputados, do Senado e do Itamaraty, que incluem TV por assinatura, computador, internet, telefone, geladeira, micro-ondas, água, café e funcionários para servir as autoridades. Só o Senado oferece sete servidores para o atendimento de seus convidados – um deles receberia salário bruto mensal de R$ 31,8 mil. Conforme as publicações, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) também mantêm salas privativas no aeroporto, porém, o STF diz não ter despesas com o espaço, e o STJ não informou o custo com a sala que utiliza.
Para manter funcionando durante um mês uma Unidade de Saúde de Família com médico, enfermagem, técnico/auxiliar de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde, conforme pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), seriam necessários aproximadamente R$ 40 mil. Com esses dados, podemos calcular que, usando os repasses dos órgãos para as salas exclusivas, seria possível bancar por aproximadamente um ano e meio uma equipe de Estratégia de Saúde da Família.
Porto Alegre sem remédio enquanto representantes bancam futilidades
A futilidade dos representantes do governo contrasta com a agonia do povo que os elegeu. A capital gaúcha enfrentou, em janeiro, dias de desabastecimento de medicação básica por falta de repasses estaduais e federais. Coincidentemente, o valor a ser destinado para este fim pelo governo federal é menor do que Congresso e Itamaraty investem nos cômodos do aeroporto de Brasília. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a compra dos remédios estava parada por falta de verba oriunda de Brasília, um total de R$ 610 mil.
R$ 354 mil em flores
Outro gasto questionável é o divulgado pelo jornal Folha de São Paulo, de que o governo federal pretende investir R$ 354 mil, em “flores nobres, tropicais e de campo” durante esse ano. As flores são usadas para decoração de eventos, gabinetes e residências oficiais e para coroas fúnebres, enquanto quem morre é saúde brasileira.