Hospital investe em combate ao esgotamento profissional
A síndrome de burnout, ou do esgotamento profissional, afeta milhões de trabalhadores em todo o mundo, e a categoria médica está entre as mais atingidas. Para lutar contra isso e promover mais harmonia no ambiente de trabalho, a Mayo Clinic,...
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07/07/2016 15:07
A síndrome de burnout, ou do esgotamento profissional, afeta milhões de trabalhadores em todo o mundo, e a categoria médica está entre as mais atingidas. Para lutar contra isso e promover mais harmonia no ambiente de trabalho, a Mayo Clinic, nos Estados Unidos, desenvolve um projeto em que oferece recursos voltados à saúde física e mental de seus médicos, que conta com aulas de ginástica, yoga, massagem, terapias e jantares entre colegas. A cada duas semanas, a clínica paga para que grupos de cinco a seis médicos possam ir a um restaurante fora do espaço hospitalar para confraternizar. "Funciona para construir coleguismo, conexão e dar significado ao trabalho", avalia o médico John Noseworthy, diretor da instituição.
A iniciativa partiu de um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Medicina Interna da Mayo Clinic, que comparou questionários aplicados a 6.880 médicos em 2011 e 2014. O resultado foi alarmante: a percepção sobre a própria qualidade de vida caiu e os fatores de estresse só aumentaram. Aproximadamente 54,4% dos médicos que responderam a pesquisa reportaram ao menos um sintoma de burnout em 2014 contra 45,5% dos participantes em 2011. O nível de satisfação entre vida social-trabalho reduziu de 48,5% para 40,9%. Apenas 40,1% dos médicos disseram que sua rotina profissional deixa tempo livre suficiente para vida pessoal e convivência familiar. O estudo também apontou que as médicas têm maior risco de desenvolver a síndrome que seus colegas homens.
Embora o esgotamento pareça um sintoma quase inerente à profissão, devido a dificuldades burocráticas e/ou econômicas para oferecer o melhor atendimento e ao excesso de trabalho, por exemplo, é possível evitar a síndrome com alguns hábitos saudáveis. “Não há esperança em alcançar um sistema de saúde sustentável, de alto valor para nossos pacientes, se estamos lidando com uma força de trabalho que não é sustentável, pessoal nem profissionalmente”, aponta Noseworthy. O experimento na Mayo Clinic mostrou que, financiando os jantares, houve aumento da sensação de significado profissional entre os médicos, redução do cansaço e a criação de um sentimento de comunidade no local de trabalho.
Médico brasileiro não é cuidado
No Brasil, o investimento na qualidade de vida dos médicos pelos gestores da saúde ainda não é uma realidade. Já as razões para esgotamento profissional são diversas. Além dos fatores intrínsecos à atividade médica, os profissionais brasileiros ainda enfrentam uma realidade adversa. Baixas remunerações, falta de condições de trabalho, excesso de carga horária, tensão na relação médico-paciente colocam o médico na linha de frente de agressões socioeconômicas.
“O médico é um desprendido em cuidar da vida dos outros, mas não é cuidado pelo próprio Estado. Isso gera frustração e é uma situação de estresse”, avalia o presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Carlos Alberto Iglesias Salgado, que faz coro a Noseworthy sobre a importância da socialização. “O interessante é na hora de folga procurar fazer atividades em grupo. O hobby precisa envolver pessoas, equipes, para que haja uma socialização, manter a vida associativa. Frequências em congressos são importantes, tanto pelo lado pessoal quanto profissional.”
Na prática, os próprios médicos é que precisam financiar esses encontros. A confraternização regular entre colegas ocorre mesmo é no ambiente de trabalho. Muitas vezes, nem as salas de descansos em postos e hospitais brasileiros são equipadas pelas administrações, mas pelos profissionais, para garantir um mínimo de conforto durante as folgas. No PA Lomba do Pinheiro, zona leste de Porto Alegre, por exemplo, os profissionais se organizaram numa associação para comprar TV e colchões novos. Situações como esta se repetem em quase todas as unidades de saúde pública.
Dicas contra o burnout
Já que esta é a realidade do trabalho médico, é possível atenuar o estresse e prevenir o burnout com algumas medidas. Muitas vezes, o médico esquece de sua própria saúde em meio aos cuidados com seus pacientes: “Uma dica é eleger um bom clínico desde cedo, de preferência um médico mais jovem do que a gente. E no meio disso tudo, se preparar para a aposentadoria. Alguns colegas adoecem quando param de trabalhar, porque não estão mais naquela correria do dia a dia”, observa Salgado. Ainda dentro dos cuidados com a saúde física, a prática de exercícios regularmente e boa alimentação são fundamentais.
Uma maneira de evitar chegar a uma situação limite de estresse é admitir que é possível mudar, seja de ambiente de trabalho, reduzindo a carga horária ou mesmo de especialidade. “Na tentativa de se ter um grande êxito, pode-se conseguir um grande fracasso”, pondera o psiquiatra. E tirar férias regulares pode parecer difícil para profissionais com múltiplos vínculos empregatícios, mas é essencial para garantir tempo de qualidade para si e seus convívios sociais.
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