Foram nove anos percorrendo aproximadamente 1,2 mil km entre Sertão, no interior do Rio Grande do Sul, e Cidade de Leste, no Paraguai, para comprar e revender mercadorias. Esta é a história do médico Marco Antônio Nardi, 25, e sua batalha para garantir a formação em Medicina, ciclo encerrado no final de 2016.
A trajetória de Nardi começa na pequena Sertão, cidade com pouco mais de 6 mil habitantes na região central do Estado, e o sonho de se tornar pediatra. Sem condições de arcar com um dos cursos mais caros, ele e a mãe foram à luta. O jovem, então com 16 anos, e a mãe, Ticiana, iam frequentemente até Cidade de Leste buscar itens como roupas, brinquedos, cobertores e eletrônicos sob encomenda – sempre respeitando o limite da cota permitida para entrada de produtos no Brasil. A atividade foi a forma encontrada para incrementar a renda da família e apoiar Nardi na conquista do diploma de médico. “Mesmo economizando, nossa renda não era suficiente para pagar um curso como Medicina. Morávamos em casa alugada e minha avó tem uma doença degenerativa, então gastamos bastante em medicações”, relembra. Foi com este trabalho que ele conseguiu pagar um curso preparatório para o vestibular durante um ano e meio, até passar na prova da Universidade de Passo Fundo. Mesmo durante os seis anos do curso de Medicina, entre horas de estudo, provas e estágios, Nardi reservava tempo para ir, uma vez por mês, até a cidade paraguaia para adquirir mais mercadorias. “Eu buscava e minha mãe vendia. Eu também fiz algumas vendas para colegas e assim conseguia me manter em Passo Fundo”, conta. A vivência no Paraguai – e até mesmo os perigos característicos de viagens – garantiram a ele uma bagagem de histórias, conhecimento e amigos que acompanharam seu percurso. É o caso do motorista do ônibus que pegava para ir e voltar do seu destino de compras. “Ele se tornou um grande amigo e participou da minha formatura”, declara. Hoje, o jovem médico recorda da época com carinho e satisfação pela experiência. “Foi um período de aprendizado. Aprendi a dar valor para as coisas, dar valor para minha família, por que vi como minha mãe, e também o meu pai, batalharam para me ajudar”, agradece, citando também o auxílio do pai, Fábio Augusto Nardi, sempre presente e fundamental na sua carreira. Futuro pediatra Atualmente, Nardi está na residência em pediatria no Hospital São Vicente de Paulo, também em Passo Fundo, seguindo o exemplo de um profissional que teve um papel importante na sua infância. “Escolhi Medicina por que não me via fazendo outra coisa. Sempre tive admiração pelo meu pediatra e queria ser como ele”, revela. A mãe, incentivadora e parceira de trabalho, continua viajando, agora para atingir novos objetivos, mas não esquece das dificuldades e esforços que ela e o filho precisaram ultrapassar para a conquista de ter um médico na família. “Ela chora toda vez que falamos nisso e sempre diz que conseguir minha formação só foi possível graças a esse dinheiro”, finaliza.O Simers utiliza cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para melhorar a experiência de usuário. Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.