Um dos grandes desafios de muitos médicos é conciliar os atendimentos em clínicas, consultórios, hospitais e postos de saúde com longos plantões. Por estarem bastante tempo na profissão, alguns estão acostumados com a rotina, porém, os mais jovens ainda podem encontrar dificuldades com essa realidade. Uma boa alimentação e manter-se hidratado são práticas simples, que acabam se perdendo por conta de muitas horas de trabalho direto.
No início, a realidade de muitas horas trabalhando quase sem parar e em diversos momentos tendo que virar a noite, assusta quem recém ingressou na vida de plantonista. É preciso se acostumar o mais rápido possível com essa rotina, estabelecendo algumas técnicas para encarar o longo tempo de trabalho contínuo.
Willian Adami se formou há menos de um ano e começou com os plantões neste primeiro semestre, no Hospital de Cardiologia, em Viamão. Para o jovem médico, uma das grandes dificuldades se dá pelos horários da rotina diária de plantonista. “Assumir por completo o exame clínico do paciente, diagnóstico e conduta, algo que não somos inteiramente treinados na faculdade a fazer, exige muita responsabilidade, porém, a grande dificuldade é a rotina diária de plantões, já que nunca havia tido experiência profissional antes”, diz Adami.
Ele conta, por exemplo, que passou por momentos de ter fome e sono durante uma noite de plantão. A partir disso, criou técnicas para contornar a situação. “Eventualmente, precisamos seguir o atendimento sem tempo para a refeição. O sono bate quando se faz mais de 12h de plantão, e especialmente quando ele ocorre à noite, em uma jornada exaustiva. Por isso, aproveito momentos de plantão mais calmo para caminhar um pouco, distrair e relaxar a mente com outro assunto que não seja medicina”, conta.
Entretanto, os médicos mais maduros desenvolveram essas estratégias devido ao longo tempo encarando os plantões. A vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Maria Rita de Assis Brasil, plantonista há 30 anos da emergência do Hospital Conceição, uma das maiores do Sistema Único de Saúde (SUS), ressalta que atualmente muitos médicos não querem fazer plantões por conta da qualidade de vida, mas que cada profissional tem um jeito particular de lidar com as longas horas de serviço. “Hoje, nós vemos claramente que essa nova geração não deseja muito trabalhar em plantões, visando melhor qualidade de vida. Para aqueles jovens que fazem ou querem entrar nessa rotina, a dica que passo é de estar bem alimentado, mas nada tão pesado, e ter momentos de lazer para ir com a cabeça tranquila, pronto a encarar o trabalho. Mas, lembrando que cada um tem sua maneira de lidar com essa situação. Eu, por exemplo, costumo ir com calçados bem confortáveis e tomar algumas xícaras de café”, diz Maria Rita.
A vice- presidente do SIMERS ainda lembra que podem ocorrer algumas situações de eventual esquecimento por causa de extremo cansaço. Por isso, Maria Rita lembra a importância do trabalho em equipe multidisciplinar. “Pelo tempo de trabalho, ás vezes pode acontecer momentos em que o médico de atende um paciente e depois da consulta lembrar que não disse alguma recomendação, e sair correndo para chamar a pessoa de novo. Por causa disso, também é muito importante trabalhar em equipe. Se tem outro colega, um enfermeiro ou técnico de enfermagem, ajuda bastante”, afirma.
Já a diretora do SIMERS, Clarissa Bassin, que faz plantões no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), desde 1997, conta não ter muitas dificuldades de adaptação com as horas de trabalho e procura ingerir alimentos leves. “Tenho muita facilidade para dormir e em qualquer hora do dia o sono é reparador. Mais de 10 anos, só faço plantão noturno e consigo ficar muito bem no dia seguinte. Não é o ideal, mas emendo 12 horas de emergência e mais 6 horas de ambulatório. Volto para casa e, neste dia, não tenho outras atividades, tirando alguma atividade física, e vou dormir mais cedo. Sempre faço isso. Não emendo noites seguidas de plantão. Isso faz com que meu ritmo não se altere muito”. Em relação a cuidados de alimentação, Clarissa revela que ingere alimentos leves e nenhuma bebida estimulante. “Não tomo nada como café, chimarrão ou energético. Ingiro apenas suco, água ou, no máximo algum tipo de chá. Comida é mais leve possível a cada três horas, geralmente lanche”, explica Clarissa.
Os plantões entraram no cotidiano de Clarissa quando ela estava fazendo residência. A diretora da entidade médica recorda das dificuldades nos primeiros dias. “Logo quando entrei na rotina dos plantões, na residência, a maior dificuldade era a insegurança. Eu tinha que estar perguntando para o preceptor, para o contratado, coisas que com o tempo tu vais aprendendo”. A diretora completa passando mais algumas dicas para aqueles que estão começando nos plantões. “Além da boa e leve alimentação, hidratação, e roupas confortáveis, pois faz diferença, eu aconselho, a não aceitar trabalhar em lugares em que o médico vai ficar 12 horas, à noite, sozinho, sendo responsável por todos os tipos de atendimentos”, recomenda.