Cerca de 2,6 milhões de bebês nasceram mortos ou morreram ainda na primeira semana de vida em 2015. A maioria dessas mortes poderia ter sido evitada, segundo estudo global divulgado pela revista médica inglesa The Lancet, que alerta sobre o silêncio da sociedade para a natimortalidade, o que contribui para sua estigmatização, fazendo com que muitos pais se sintam culpados pela morte.
O estilo de vida ou a dieta da mãe ainda são apontados como principais responsáveis pelo óbito neonatal, segundo pesquisa da revista. O que não se fala é que essas mortes seriam evitáveis com medidas simples, como o atendimento pré-natal da gestante. “O acompanhamento pré-natal é importantíssimo para tentarmos separar as pacientes de risco habitual daquelas de alto risco. Embora isto não seja tarefa fácil. A investigação realizada pelo pré-natalista de doenças como sífilis (prevalente em nosso meio), HIV e hepatite B, se devidamente tratadas ou prevenidas durante o ciclo gravídico-puerperal, diminui significativamente a chance de transmissão destas doenças para os bebês. As mães que não realizam o pré-natal estão mais expostas às complicações destas doenças e, consequentemente, a perdas fetais”, destaca o diretor da Associação de Obstetrícia e Ginecologia RS (Sogirgs), Gustavo Steibel.
Segundo o obstetra, a realização do pré-natal permite a avaliação da pressão arterial materna seriada, avaliação do comprimento do colo uterino e o acompanhamento do crescimento uterino. “Estas medidas podem identificar precocemente doenças como pré-eclâmpsia, trabalho de parto prematuro e crescimento intrauterino restrito em algumas pacientes. A identificação precoce de eventuais malformações fetais também é importante para um atendimento fetal adequado no nascimento. Dessa forma, a paciente que realiza o pré-natal adequado tem menos chances de ter um evento adverso no decorrer de sua gestação”.
De acordo com o estudo, a maior parte dos casos de óbito fetal acontece antes do trabalho de parto. E a outra metade, durante o trabalho de parto. As mortes que ocorrem antes do parto estão ligadas à má-formação congênita ou condições maternas associadas à gravidez, como anemia, tabagismo, hipertensão, diabetes, infecções e sífilis, por exemplo. Já a morte que acontece durante o trabalho de parto, por melhor que seja a assistência, infelizmente ainda ocorre por motivos diversos. “Sem dúvida, hábitos como tabagismo, uso de bebidas alcoólicas e drogas prejudicam não só a saúde da mãe como a do feto. Uma alimentação diversificada rica em vitaminas, ferro, cálcio e proteína são importantes para gestação de um bebê saudável”, ressalta Gustavo.
“A realização do parto em um ambiente capaz de se fazer tanto um parto vaginal como uma cesárea é importante, uma vez que somente saberemos se o parto será via vaginal na hora do nascimento. Às vezes, ficamos horas esperando um parto normal e no ultimo minuto temos que fazer uma cesárea de urgência, mas assim como o local, a equipe responsável pelo parto deve estar apta a realizar tanto o parto normal quanto a cesariana. Depender do deslocamento de uma parturiente para outro lugar para realização de uma cesariana é um risco para a mãe e para o feto. Por isso, apoiamos o parto normal dentro do hospital assistido por equipes multidisciplinares, chefiadas por obstetras ”, conclui Steibel.