28/05/2016 09:00
Um estudo divulgado neste mês, realizado por pesquisadores do Weill Cornell Medical Center, de Nova York, indica ainda mais riscos para o parto domiciliar. Se dar à luz em casa já aumenta em 10,5 vezes a chance do recém-nascido ter Apgar zero no quinto minuto (nota dada ao bebê, que vai de zero a 10), o que pode levar a danos neurológicos, quando a mãe já tiver passado por uma cesariana em gestação anterior, o risco se amplia em mais dez vezes.
Foram avaliados partos residenciais planejados, mesmo aqueles com a presença de doulas e parteiras, e o que se registrou foi o aumento de convulsões e disfunções neurológicas nos bebês, como encefalopatia hipóxico-isquêmica, em caso de cesárea anterior. De acordo com o estudo americano, essas complicações com parturientes que já passaram por cesariana ocorrem em 0,93 por 10 mil casos em hospitais. Já em casa, sobem para 1,92/10 mil.
“O risco é ainda maior no parto domiciliar se a gestante tem uma cesárea prévia”, decreta a presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), Mirela Jimenez. Isso ocorre devido à maior incidência de eventos adversos em partos normais após cesarianas. “Com cesárea prévia, é possível ter um parto normal, mas requer ainda mais cuidados, pois há chance de ruptura do útero, o que gera riscos para o neném e para a gestante. O parto domiciliar, portanto, é altamente contraindicado.”
Para o médico Amos Grunebaum, um dos responsáveis pela pesquisa, a ruptura de útero pode ameaçar a vida tanto da mãe quanto da criança, mas os hospitais estão prontos para fazer uma intervenção rápida, o que não é possível num parto domiciliar. “É mais fácil tornar o ambiente hospitalar acolhedor para o momento do nascimento do que o domicílio seguro para a realização do parto”, concorda Mirela.
“Parteiras recusaram-se durante muitos anos em estabelecer quaisquer orientações sobre as mulheres que podem correr maior risco em parto domiciliar. Como consequência, parturientes de gêmeos ou com cesárea prévia continuaram a correr riscos”, aponta Grunebaum, destacando que espera que seu estudo desencoraje as mulheres a ter um parto em casa. Mirela reforça a importância do parto médico, hospitalar e seguro, e lembra que, quando há cesariana prévia, cada caso é um caso. “Algumas pacientes podem ter menor ou maior risco, e nem sempre o parto normal será recomendado, como em casos de cesárea corporal – incisão vertical rara, necessária em alguns partos prematuros. É preciso ouvir o seu médico”, alerta.