Depois de conquistar o tão sonhado diploma vem a dúvida: o que vale mais a pena, abrir um consultório sozinho ou em sociedade? O primeiro passo é buscar informações jurídicas e financeiras para saber o que sai mais em conta financeiramente e o que vai suprir melhor as necessidades do médico.
Entre as vantagens e desvantagens está a divisão das despesas com secretária, aluguel do imóvel e material de limpeza, por exemplo. Se o médico optar por abrir um consultório sozinho terá que arcar com todos os custos. Já se escolher em dividir o consultório tudo o que será gasto em relação a atividade será dividido entre os locatários.
A pediatra e psicanalista Ariadene Beatriz Porciuncula Duarte optou em abrir uma sociedade na década de 1980. Ao sair da faculdade, passou a atender em uma clínica com mais seis médicos também recém-formados. “Logo que cheguei a Montenegro, dividimos um casarão onde montamos o Centro Médico Montenegro. Por 10 anos atendemos particular, convênio e SUS. Os pacientes vinham de Taquari, Novo Hamburgo, Triunfo e região.”
Neste caso, a especialista iniciou a sua carreira como pessoa jurídica, o que facilitou na hora de realizar pagamentos, na questão administrativa, pois a PJ (Pessoa Jurídica) possui tributação menor, ou seja, no regime de tributação de lucro presumido o percentual é de 14,33%. No regime de tributação do Simples Nacional a tributação mínima é de 16,93%. A empresa poderá emitir nota fiscal para os pacientes, porém deverá informar o CPF em cada nota emitida.
Para Ariadene, na época a sociedade valeu muito a pena porque ofereciam várias especialidades num só local. “No início, éramos jovens com poucos clientes e por isso foi muito bom, mas com o passar dos anos a sociedade deixou de existir. Decidimos cada um atender separadamente porque não dávamos mais conta devido ao alto número de pacientes. Não tínhamos mais área física para a sala de espera”, destaca a pediatra. Foi quando a médica passou a responder como pessoa física.
Quando o médico decide ser pessoa física, o consultório é vinculado ao CPF do médico. A tributação da Receita Federal está sujeita ao percentual de 27,5%. O profissional poderá arcar com as despesas individualmente, ou se dividir o consultório poderá ratear as despesas da atividade com os demais colegas escriturando no livro caixa separadamente. O percentual de encargos dos funcionários vinculados a Receita Federal varia de 33,5% a 35,5% de INSS e 8% de FGTS. A contratação é feito em um único CPF e poderá emitir aditivo de contrato de coempregadores. Além disso, para toda a consulta particular que ele for realizar o medico terá que emitir recibo com o seu CPF do pagante e o do paciente.
No interior é comum os médicos abrirem suas próprias clínicas. Um dos exemplos ocorre em Panambi, onde atualmente não há um local que ofereça várias especialidades. Foi o que aconteceu com o pediatra Volnei Santos Malheiros, que atua há 25 anos sozinho. “Em Panambi, atualmente tem apenas um local onde é possível encontrar um ginecologista e um traumatologista. Os demais médicos atendem individualmente.”
Volnei acredita que a cultura local influencia bastante para o atendimento individual da medicina. “Panambi cresceu e está com quase 48 mil habitantes. Agora, numa conversa informal com um amigo, estamos pensando em construir algo integrado que ofereça atendimentos de pediatria, traumatologia, obstetrícia e raio-x, num só local, mas não sabemos se será como sociedade. Ainda não decidimos. Falamos em cotizar, não falamos em sociedade”, conclui o pediatra.
Na Capital gaúcha, a otorrinolaringologista Andreia Wenzel, logo que se formou, foi trabalhar em clínicas populares não só para adquirir experiência, mas também para ficar conhecida entre os pacientes tanto em Porto Alegre como na região metropolitana. A médica sublocou a sala de um cirurgião plástico onde passou atender por um turno. “Pagava mensalidade para atender uma vez por semana”, destaca Andreia. Ao terminar a residência, a médica buscou um negócio próprio, mas em sociedade. “Na medida em que consegui mais horários na minha agenda, eu e mais três médicos também otorrinos compramos uma sala. Criamos um consultório com duas salas, com cinco turnos para cada um. Dividimos de acordo com os horários que temos fora do consultório, porque precisamos atender ainda em outros lugares, em grandes centros com fluxo de pacientes até para nos conhecerem. Não dá só pra ficar na nossa clinica esperando o paciente chegar.”
A diferença de sublocar uma sala para ter o seu próprio consultório é enorme. “Acima de tudo, pela autonomia. Tu passa a ter a tua secretária, tu que define os horários com outros sócios. Antes eu pagava a sala de acordo com que eu usava. Dividia até mesmo os custos com a secretária,” destaca Andreia, que revela que até hoje não teve divergência entre os colegas, mas não descarta que um dia isso aconteça, afinal, “sociedade é isso”, conclui.