Os números da pesquisa Vigitel 2016, recém-divulgada, alertam: mais da metade da população brasileira está com peso acima do recomendado. Em Porto Alegre, a prevalência da obesidade é maior do que a média nacional e alcança 19,9% das pessoas.
Os dados preocupam ainda mais quando analisados em conjunto com outras variáveis. O diabetes teve um aumento de 61,8% na última década e a hipertensão cresceu em 14,2%. Para o cardiologista André Luis Camara Galvão, também diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio Grande do Sul (Socergs), a associação do aumento dessas doenças crônicas com as taxas crescentes da obesidade é direta.
“É claro que precisamos considerar as tendências genéticas de cada indivíduo e as questões hereditárias, mas a presença da obesidade funciona como um complicador, que agrava essa predisposição”, explica Galvão. Nas dietas ricas em gordura, é comum o acúmulo de placas nas artérias, o que pode diminuir o fornecimento de sangue para o corpo.
Além disso, vale lembrar que os efeitos do excesso de peso não prejudicam somente a saúde cardiovascular, mas também podem ter influência no desenvolvimento de alguns tipos de câncer e de problemas osteomusculares. O reflexo aparece na qualidade de vida.
Dados favoráveis apontam perspectiva positiva
“A obesidade está se transformando em uma epidemia”, afirma o cardiologista. Para ele, o crescimento dos índices na atualidade está ligado com os hábitos alimentares da população no passado, sobretudo a partir da década de 1990. Durante esse período, os alimentos processados e os fast foods passaram a fazer parte da dieta do brasileiro de maneira mais frequente. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da tecnologia e a praticidade por ela agregada propiciou a adoção de comportamentos sedentários.
Hoje, no entanto, há uma tendência de mudança em curso. O estudo da Vigitel mostra que o consumo regular de frutas e hortaliças aumentou e que o consumo de refrigerantes e sucos artificiais, por outro lado, diminuiu nos últimos dez anos (veja os números no infográfico). Galvão entende que esse é o caminho para diminuir os índices na próxima década.
“Sabemos que a prevalência de obesidade duplica a partir dos 25 anos, então é importante fazer um trabalho de prevenção desde a infância e adolescência. Cuidar da educação alimentar das crianças é garantir um futuro mais saudável para a população”, ressalta o especialista.
Ou seja, trabalhar na prevenção ainda é a melhor saída. A estratégia inclui desde a merenda levada pelos pequenos para a escola até o incentivo à realização de atividades físicas regularmente. É um processo contínuo para a criação de hábitos que propiciem uma dieta equilibrada e a descoberta do prazer que os exercícios podem oferecer. Na vida adulta, sobretudo a partir dos 30 anos, a dica do cardiologista é também fazer avaliações médicas periódicas (em geral, o recomendado é uma vez por ano) e manter o controle da pressão arterial.