11/04/2017 08:27
Mais de 90% dos pacientes que tentam o suicídio apresentam algum distúrbio psiquiátrico
O Brasil é hoje o 8º país no mundo com mais casos de suicídio e o Rio Grande do Sul o estado brasileiro com mais registros de morte desta natureza. Os dados assustadores indicam a necessidade de se discutir o problema como um caso de saúde pública e, mais do que isso, de saúde mental. Mais de 90% dos pacientes que tentam o suicídio apresentam algum distúrbio psiquiátrico. Além disso, 95% daqueles que cometeram suicídio tiveram diagnóstico de transtorno mental ou comportamental.
As mortes por suicídio estão totalmente associadas a doenças mentais, como depressão (35% dos casos) e dependência em álcool e drogas (31%). É o que afirma o psiquiatra e coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio do Sistema de Saúde Mãe de Deus de Porto Alegre, Ricardo Nogueira.
Em 2016, o Brasil registrou 12 mil suicídios – uma média de 1 mil por mês e 33 por dia -, ultrapassando o número de óbitos por acidentes de moto. No mundo, o índice é de 850 mil por ano. “Esse dado mostra que, hoje, o suicídio mata mais do que as guerras e mais do que os conflitos no Oriente Médio, por exemplo”, compara o médico.
Líder no ranking de casos de suicídio no Brasil, o Rio Grande do Sul possui 13 entre as 20 cidades brasileiras com mais registros deste tipo de morte. A média é de 11 suicídios para cada 100 mil habitantes. De acordo com Nogueira, os fatores econômicos estão fortemente associados ao ato de tirar a própria vida. No Brasil, por exemplo, a recessão econômica e o recorde no número de pessoas desempregadas (mais de 13 milhões) desencadeiam uma série de impactos na saúde mental da população. “Temos estudos, corroborados com a opinião de economistas, que indicam que a perda da renda atinge diretamente o trabalhador, causando depressão, ansiedade, violência urbana e ocasionando em suicídios”, explica.
Suicídio é a maior causa de morte de meninas
A parcela jovem da população tem apresentado os maiores índices de suicídio. Segundo o especialista, entre 2008 e 2013, houve um aumento de 40,4% na tentativa de suicídio por crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. O cenário é ainda pior ao analisar as causas de morte entre os integrantes da faixa etária: é a maior entre meninas e a terceira maior entre meninos – ficando atrás apenas de homicídio e acidentes. “No caso das meninas, os indicadores são fatores como o início da vida sexual, uso de álcool e drogas de forma muito precoce, gestação indesejada e tentativa de aborto”, revela.
Nogueira alerta para a urgência de um diagnóstico e tratamento efetivos. Para ele, o quadro depressivo comum entre os jovens é o estopim para um comportamento agressivo, uso de entorpecentes – que, por sua vez, resultam em outros problemas -, e o aumento de atitudes compulsivas, levando o jovem ao extremo. “É preciso ter a competência e a capacidade de decifrar estes sinais para encaminhar com urgência essas pessoas para o tratamento”, esclarece.
100% dos suicidas buscaram ajuda
Nogueira destaca uma informação importante: 100% das pessoas que cometeram suicídio buscaram algum tipo de ajuda pelo menos seis meses antes do ato. Além disso, 48% tiveram registros de boletim de ocorrência policial por motivos como agressão e intoxicação alcoólica. “A negação dos familiares e autoridades com o tema é absurda, um silêncio ensurdecedor. O ser humano não suporta sofrer, isto é um fenômeno da globalização. O cuidado que devemos ter é um ato de amor que significa dedicar atenção e tempo para essas pessoas”, considera.