O Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), conhecido como Postão da Cruzeiro, voltou a registrar forte tensão no final da noite desta segunda-feira (25) devido à superlotação e número insuficiente de profissionais e uma grande demanda para consultas. Temendo invasão diante da revolta de algumas pessoas com a espera (mais de 10 horas), os profissionais pediram apoio à Brigada Militar (BM), que foi ao local por volta de 21h.
O Sindicato Médico do RS (SIMERS) também foi ao Postão para verificar se havia condição de atendimento, devido ao risco de violência. O diretor do SIMERS André Gonzales encontrou um cenário que ele mesmo descreveu de "guerra". Apenas dois plantonistas tentavam dar conta da demanda de 66 pessoas esperando por consulta na entrada do Postão e ainda mais de 15 pacientes em observação, muitos internados há dias por falta de leitos em hospitais.
Entre os casos, havia dois em ventilação mecânica, um baleado e outros em situação mais grave. Na área de isolamento, onde ficam suspeitos de tuberculose e outras enfermidades contagiosas, estavam cinco para quatro leitos. "O risco aumento, pois mesmo quem só tem suspeita pode ficar doente", advertiu a médica.
"Situação como essa só na Síria, em um desses países em guerra ou sob conflito permanente", declarou Gonzales. Três fatores explicam a tensão que virou rotina na maior emergência do SUS fora de hospital no Estado. Carência de postos de saúde (80% dos casos que chegam ao Postão poderiam ser resolvidos na rede básica), falta de médicos e demais funcionários para acolher tanta demanda e de leitos em hospitais, pois muitos casos ficam na emergência e acabam sobrecarregando plantonistas e impedindo condições adequadas de atendimento ao fluxo ininterrupto de novos casos.
"Se eu pudesse atenderia todos. Meu objetivo é fazer isso e muito bem, mas eu sou só uma. Preciso atender primeiro os casos de risco maior de morrer e depois aqueles com maior dor e sofrimento. A situação só piora, e o problema é que o sistema de saúde está superlotado". A médica lamentou a falta de condições para dar conta de tanta demanda. "Todo trabalhador quer dignidade para atuar, independentemente de quanto estudou." Ela citou que o risco ainda de violência pois muitos têm ligação com tráfico. "Tivemos pessoas assassinadas aqui dentro, estupradas, é a realidade do PACS."
Para piorar o quadro e instalar um ambiente caótico, a adoção de sistema informatizado obriga que o morador permaneça no local até a hora de ser atendido. No sistema antigo, a pessoa podia ir para casa e voltar no horário previsto de consulta. "A situação está muito tensa, não temos condições, não há médico suficiente e não para de chegar gente para atendimento", descreve a plantonista. Esse problema foi denunciado no primeiro semestre. O Sindicato foi ao local justamente devido à tensão gerada pela grande demora. Um homem chegou a quebrar os vidros da área de recepção revoltado após ficar mais de 12 horas aguardando. Como é uma emergência, a prioridade é dada a casos de maior gravidade. O PACS
O SIMERS vai solicitar o boletim do fluxo de pacientes e de relatos de reclamações e tensão. A entidade vai cobrar dos gestores que garanta condição ao funcionamento. A violência passou a ser parte da estrutura, o postão já foi fechado devido a confronto de gangues. Uma das plantonistas relatou as ameaças de agressão feitas verbalmente devido à superlotação.
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