28/06/2017 20:00
A restrição no número de pacientes atendidos nas principais emergências de Porto Alegre gera reflexos em unidades de saúde da Capital. O principal deles é a superlotação, que expõe médicos e pacientes a condições extremas. É o caso do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), como explica a diretora do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS) Clarissa Bassin, que também atua no local. “São seis leitos clínicos e, em média, há 15 pacientes internados e 30 dentro da sala de observação. É um absurdo, mal existe lugar para circular”, relata.
A situação tem se agravado ainda mais desde dezembro de 2016, quando o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) anunciou mudanças no fluxo de atendimento de sua emergência, que passou a fechar as portas para novos pacientes sempre que a lotação atingisse o número de 80 pessoas já internadas. Em fevereiro deste ano, processo semelhante aconteceu no Hospital Nossa Senhora da Conceição.
Para Clarissa, a mudança reflete a situação conjuntural das emergências hospitalares, cada vez mais lotadas, o que resulta em prejuízo para o exercício da medicina. Ela entende que o regime de restrição e os sinais de alerta, utilizados sempre que a unidade atingir um percentual determinado de ocupação, permitiram que os hospitais se organizassem por conta própria, diante da falta de atitude da gestão.
Ainda assim, as duas maiores emergências da Capital atuam além da capacidade – situação que também se repete diariamente em outros hospitais de Porto Alegre. Na tarde desta quarta-feira, o HCPA possuía 113 pacientes para 41 leitos disponíveis. No Conceição, eram 91 pacientes para 64 leitos.
Demanda excedente
Por outro lado, a diretora do Sindicato ressalta que, do ponto de vista da saúde pública, adotar medidas que sejam exclusivas de uma determinada ponta acaba sobrecarregando a outra. Neste caso, a demanda excedente das emergências se concentra nas unidades de pronto atendimento de Porto Alegre, que muitas vezes contam com um quadro clínico insuficiente. Como consequência, pacientes graves, que não deveriam estar ali, esperam dias e chegam ao hospital com complicações.
“A situação não está boa para ninguém. Com certeza não está boa para o hospital e está muito ruim para o pronto atendimento, que está sobrecarregado, com menos médicos do que deveria, especialmente no PACS e na Bom Jesus, poucos recursos de diagnóstico e uma capacidade de espaço muito pequena”, avalia ainda.
Reabertura do Hospital Parque Belém
O SIMERS cobra providências imediatas da gestão municipal e também o apoio do Estado para resolver o quadro insustentável da saúde em Porto Alegre. Para o presidente do Sindicato, Paulo de Argollo Mendes, a mudança passa pelo aumento no número de leitos. O Hospital Vila Nova é um exemplo, mas ainda insuficiente para uma solução efetiva.
“Não podemos admitir que, enquanto a população sofre com a superlotação, tenhamos um hospital pronto, com UTI e modernos aparelhos de diagnóstico, mas fechado. Município e Estado precisam se engajar na reabertura dos mais de 200 leitos do Hospital Parque Belém”, defende Argollo.