Em assembleia realizada no início da tarde desta sexta-feira, 11, em frente ao Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, os profissionais da área da saúde decidiram seguir em estado de greve até o dia 18 de novembro, quando acontece a segunda audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), marcada para as 14 horas. As categorias promoveram paralisação de 48 horas, na quarta e quinta-feira (9 e 10), em virtude da falta do recebimento de uma proposta da patronal que atendesse a reposição integral da inflação.
A assembleia reuniu centenas de trabalhadores, representando os mais de 10 sindicatos envolvidos na negociação, entre eles o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS). “A decisão da assembleia foi a mais adequada e reforçou a união de todas as categorias. Vamos ver se o sindicato patronal demonstra mais sensibilidade”, avaliou o presidente da entidade, Paulo de Argollo Mendes.
A greve atingiu doze hospitais da Capital e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte. Nesses locais o atendimento à população foi mantido em, no mínimo, 30%. Na quinta-feira, ocorreu uma caminhada pela saúde, que saiu do Hospital Conceição e foi até o Hospital Cristo Redentor, reunindo cerca de 500 pessoas.
“Fizemos uma avaliação dos dois dias de paralisação e ela foi positiva. Na semana que vem estaremos no Tribunal Regional do Trabalho esperando que uma proposta mais adequada ocorra, com a reposição da inflação”, declarou a vice-presidente do SIMERS, Maria Rita de Assis Brasil.
Negociação
Na última terça-feira, em audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, o desembargador João Pedro Silvestrin, havia solicitado uma “trégua” aos sindicatos, tendo em vista que há uma nova audiência marcada para o dia 18 de novembro, na qual o sindicato patronal deverá apresentar uma proposta melhor para a categoria. A proposta em vigor é de 3,5% de reajuste a partir de junho e de 1,5% em dezembro (no caso dos médicos), além de 1% a partir de janeiro de 2017, totalizando 6%. O valor, bem abaixo da inflação, é considerado desrespeitoso pelos trabalhadores, que desejam a reposição do INPC, em torno de 10%.
Entenda os motivos da paralisação
Perda salarial – Após mais de dois meses de negociação, a proposta não atende a reivindicação de reajuste dos profissionais da área da saúde. Enquanto a inflação é de 9,5%, o valor oferecido é de 5%, com pagamento parcelado.
Condições de trabalho – As condições para atendimento em muitas instituições são precárias. Resta ao médico socorrer o paciente em cadeiras, sem equipamentos, em salas sem ventilação e insalubres.
Segurança – Até mesmo execuções sumárias têm ocorrido dentro dos hospitais. São situações de extrema vulnerabilidade que colocam em risco a vida de profissionais da saúde e pacientes. Constantemente os trabalhadores reivindicam dispositivos de segurança e maior vigilância em ambientes de conflito permanente, que não têm sido atendidos.
Falta de leitos – O número reduzido de leitos também é uma constante que dificulta o atendimento. Para se ter uma ideia, no dia 27 de outubro a emergência do Hospital de Clínicas teve 174 pacientes para 41 vagas. Não se trata de um número isolado. Uma das consequências é a sobrecarga dos profissionais, que precisam atender um número muito superior do que o permitido pela estrutura. Ao mesmo tempo, os pacientes são expostos a situações degradantes, que ferem os direitos humanos. “Qualquer um que já tenha estado em um serviço do SUS sabe que as condições de atendimento são de indigência. São insalubres e, inclusive, anti-higiênicas para a população”, ressalta o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes.
Hospitais envolvidos na paralisação
Grupo Hospitalar Conceição: hospitais Cristo Redentor, Fêmina, Conceição/Criança
Conceição e UPA Zona Norte
Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Hospital Moinhos de Vento
Hospital Mãe de Deus
Hospital São Lucas/PUC
Hospital Ernesto Dornelles
Hospital Parque Belém
Hospital Porto Alegre
Hospital Vila Nova
Participação dos hospitais ligados ao Sindihospa na rede de atendimento
• São 12 hospitais em Porto Alegre: 5.061 leitos (sendo 3.490 leitos do SUS)
• 60% dos leitos totais de Porto Alegre (que tem 8.328 vagas totais – privados e SUS)
• 66% dos leitos SUS em Porto Alegre (que tem um total de 5.284 vagas pelo SUS)
• Região Metropolitana: leitos totais e SUS dos hospitais respondem por 40% da oferta, ou seja, de cada 10 leitos (SUS ou não SUS), 4 estão nos hospitais da convenção Sindihospa
• Rede estadual: os leitos representam 15% da oferta de leitos totais e SUS