A iatrofobia (medo de médico), também conhecida como a “síndrome do jaleco branco”, se caracteriza pelo medo de médicos. Embora muitos adultos também padeçam desse transtorno, é mais comum atingir as pessoas ainda na infância. Aqueles que sofrem de iatrofobia evitam consultas médicas, não importando a gravidade do problema de saúde, têm medo de seringas e até de estetoscópios. No geral, quando tomam coragem e vão a um consultório médico, ficam com a respiração acelerada, com náuseas e até ataque de pânico. Para ajudar os pequenos a superarem este receio, estudantes de medicina da Ulbra, em conjunto com um professor, implantaram o projeto “Hospital Ursinho” na universidade, que estimula as crianças a enfrentarem esses medos, através de uma unidade de saúde fictícia.
O projeto “
Teddy Bear Hospital” é uma ação comunitária criada no final da década de 1990, na Áustria. Hoje em dia, é desenvolvida em diversos países pela Federação Internacional dos Estudantes de Medicina (IFMSA), onde universitários do quinto semestre de medicina participam, visando subtrair o problema da iatrofobia que atinge milhares de crianças, inserindo-as de forma lúdica nas etapas de um atendimento hospitalar. Nesse hospital fictício, as crianças levam seus próprios ursinhos de pelúcia para a consulta em um ambiente montado nas salas de aula. Com o nome de “Hospital do Ursinho” a iniciativa chegou à ULBRA no início de 2015 e está contemplando as escolas da universidade, na cidade de Canoas. “É um projeto de extensão criado para trabalhar com alunos que estão no início do curso de medicina, para desenvolver a relação do médico com o paciente através do comportamento das crianças, que costuma ser muito fiel aos seus sentimentos. Além disso, buscamos mostrar para eles que hospital é um lugar de cuidado com a saúde, tirando a fobia do ambiente hospitalar”, explica a professora do curso de medicina e coordenadora do projeto, Katia Bonfadini Pires.
O projeto é levado duas vezes ao mês, em turmas de até 40 crianças, com idade entre quatro e sete anos. Para a escola contar com as atividades, a coordenadora salienta que a ideia do projeto é levada até a direção da escola, além de ser enviado um documento de autorização para os pais. “Primeiro ligamos para a escola falamos sobre o programa. Depois vamos até lá, levamos a ideia em mãos e marcamos a data. Uma carta pedindo autorização aos pais das crianças é enviada também”, conta. A ação consiste em simular todas as etapas de um atendimento médico. Os pequenos passam pela recepção, pegam a ficha de atendimento, levam o ursinho ao ambulatório, para a sala de exames e sala de curativo. No final, vão até a farmácia retirar a medicação e depois recebem uma bala contendo alguma mensagem de afeto. “As crianças passam por todas as etapas manuseando os instrumentos médicos como, por exemplo, estetoscópios e ajudam a colocar os bichinhos na cama de exame. Dessa forma, eles começam a entender que podem confiar na equipe médica. Buscamos ensinar a eles a medicina preventiva”, ressalta Katia.
Atualmente, são 18 alunos colaborando, divididos em três grupos que vão separadamente às escolas, para suprir as demandas. A presidente do Hospital do Ursinho, Camila Fialho, aluna do 5º semestre de medicina, ingressou no projeto no início de 2015 através de seleção realizada, e ela acredita que um dos principais benefícios é o aprendizado de lidar diretamente com o paciente. Está sendo ótimo, pois essa convivência é muito boa para nosso aprendizado, além de ver eles perdendo alguns medos aos poucos, o que seria mais difícil em um ambulatório real”, analisa. A vice- presidente, Katrhine Meier, também estudante do 5º semestre de medicina da Ulbra, também decidiu colaborar, no segundo semestre de 2015, por conta da interação com os pacientes infantis. “Não tinha muita desenvoltura com crianças, então, para entender o universo delas, atende-las melhor, resolvi participar. Quero ser cirurgiã, mas temos que estar preparados para todos os tipos de pessoas”, diz Katrhine.
E no dia agendado para ser realizada a ação, o entusiasmo das crianças é grande e motivacional para os futuros médicos. “Eles ficam bastante ansiosos. Levam os ursinhos e na hora do atendimento contam histórias, explicando o motivo do bichinho de pelúcia estar doente. É muito divertido e animador ver o interesse nos olhos deles”, relata Camila. O projeto que também foi inserido na programação oficial da Semana do Bebê, em Canela, recebeu menção honrosa pela iniciativa no início deste mês. Em breve, a intenção é que o Hospital do Ursinho contemple mais escolas de Canoas e que uma sala de cirurgia seja incrementada nas etapas lúdicas.