A internet e as novas tecnologias são importantes para o desenvolvimento e aprendizado das crianças e de pessoas de qualquer idade. Porém, como tudo na vida, há o outro lado da moeda. O uso indevido e sem moderação dos dispositivos eletrônicos pode ocasionar dependência do universo virtual, deixando de ser instrumento enriquecedor no conhecimento, e prejudicando a saúde. Esse vício pode acarretar a nomofobia, nome do transtorno de ansiedade gerado pelo medo de ficar desconectado da internet e do celular o tempo inteiro.
O nome nomofobia vem do inglês
no +
mobile + fobia. Trata-se do transtorno de ansiedade de ficar sem conexão móvel e a necessidade de ser contatado a qualquer momento. Entre os sintomas que caracterizam a doença estão: taquicardia falta de ar e tremedeiras, além da ansiedade e forte angústia por estar longe da internet. Em longo prazo, pode gerar problemas de postura, na visão, obesidade e subnutrição. O transtorno independe de idade, mas no caso das crianças e adolescentes, é mais comum apresentar problemas pelo uso excessivo das redes sociais. “Não há idade para ocorrer essa doença, pois tudo vai depender de uma predisposição ou do ambiente em que a pessoa vive e de algumas atitudes dos pais. Se uma criança é acostumada a ficar mexendo no iPad com o objetivo de não incomodar durante as refeições, por exemplo, vai crescer com esse hábito”, explica a médica psiquiatra Carla Bicca.
Além do vício profundo nos dispositivos tecnológicos, a nomofobia gera uma série de outros danos psicológicos como o isolamento. “O mundo dessas pessoas acaba ficando restrito ao celular e as redes sociais. Muitas vezes pode dar insônia, além de preferir estar no universo virtual em vez de viver a realidade propriamente dita”, salienta Carla. A psiquiatra analisa que, normalmente, os adolescentes ficam muito expostos nas redes sociais. “Isso é uma característica dessa faixa etária. Eles deixam a vida transparente na internet, pois a interação acontece apenas por estes canais”, alerta.
O tratamento é feito a partir das sessões de terapia cognitiva comportamental, para as crianças entenderem que o uso sem moderação da tecnologia influencia negativamente no dia a dia, medicação para controlar os impulsos de ansiedade e a reeducação na utilização dos aparelhos tecnológicos, em acompanhamento psiquiátrico. A Família também tem um papel importante para um tratamento bem sucedido. No caso de crianças, os pais devem regrar o uso da tecnologia. “Os pais participam de algumas sessões, o que chamamos treinamento de pais, para aprenderem a lidar com a situação da criança ou adolescente. Entender que eles não podem ter melindres de poder controlar as atitudes do filho”, diz Carla. A médica ainda explica que o correto é que os pais regrem o tempo de uso da tecnologia e estimulem as crianças a fazerem outras atividades como a prática de exercícios físicos.
Carla ainda explica que uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pacientes é a percepção do transtorno. “As pessoas sempre criam racionalizações para justificar que não há nada errado, que tudo está absolutamente normal. A falta de percepção é comum nesse transtorno, ainda mais em crianças e adolescentes”, garante.