Qualidade de vida reduz casos, mas Brasil ainda está longe de erradicar hanseníase
Foi-se o tempo que o tratamento dado ao portador de hanseníase era a segregação. Desde a descoberta da cura, a implementação de medidas por igualdade social e saneamento básico tem sido a principal forma de evitar a doença. Embora os...
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25/01/2016 12:55
Foi-se o tempo que o tratamento dado ao portador de hanseníase era a segregação. Desde a descoberta da cura, a implementação de medidas por igualdade social e saneamento básico tem sido a principal forma de evitar a doença. Embora os índices tenham caído bastante no Brasil, o país ainda ocupa o segundo lugar em incidência da doença. Em números absolutos, só perde para a Índia. “O Brasil ocupa esta posição por ser o quinto país em população, e superpopulação é um fator de contágio. Mas em números relativos, não estamos tão mal”, relativiza o dermatologista sanitário Jair Ferreira.
A taxa de prevalência caiu 68% em dez anos, passando de 4,52 por 10 mil habitantes, em 2003, para 1,42 por 10 mil habitantes, em 2013, quando houve 31 mil novos casos. Em 2014, foram 24 mil casos em todo o Brasil. Os números de 2015 ainda não foram levantados pelo Ministério da Saúde. Apesar da queda progressiva, Ferreira não acredita na erradicação da doença tão cedo. “Podemos reduzir os novos casos, mas apesar das melhorias nas condições sanitárias, a endemia sempre foi alta. Os sintomas não são muito claros, e os doentes seguem transmitindo o bacilo enquanto não recebem tratamento”, explica. Para o dermatologista, até a falta de contato dos médicos com a doença contribui com diagnósticos tardios. “É preciso que haja a suspeita do diagnóstico, mas, no Rio Grande do Sul, onde a incidência é menor, muitas vezes os médicos passam pela residência sem ter visto um caso.”
Tratamento combate estigma
Neste domingo (24), foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Hanseníase. Antigamente chamada lepra, a doença é uma das mais antigas da história da medicina, gerou muito estigma e ainda acomete populações em vulnerabilidade social e sanitária pelo mundo. Porém, o diagnóstico precoce e o tratamento imediato impedem que o mal de Hansen prolifere e cause incapacidades físicas ao indivíduo. A hanseníase é uma doença infecciosa, que atinge primordialmente a pele, mas pode afetar os nervos periféricos, olhos e até outros órgãos.
“Há duas situações distintas, mais leve ou mais grave, dependendo do grau de resistência da pessoa. A faixa mais suscetível é uma minoria, mas na qual a doença pode se generalizar, evoluir para destruição de tecidos nervosos, causando o encurtamento do septo nasal ou dos dedos e até paralisia de mãos e pés, além da perda de sobrancelhas e fechamento da garganta, causando rouquidão”, exemplifica Ferreira.
Embora os sintomas sejam variados, manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas na pele, com diminuição ou perda total da sensibilidade a calor, frio, dor e toque são sinais de alerta e devem ser avaliadas pelo médico. Também pode ocorrer sensação de formigamento, fisgadas ou dormência, surgimento de caroços e placas e diminuição da força muscular.
Causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, a doença tem tratamento via oral através dos serviços de saúde e é gratuito, sendo que, após iniciado o tratamento, a pessoa para de transmitir a doença quase que imediatamente. Portanto, quanto antes houver o diagnóstico, mais eficaz é seu controle e não existe a necessidade de segregação. Ainda assim, é importante que todas as pessoas que conviveram com alguém diagnosticado sejam examinadas, pois a doença tem um período de incubação prolongado. “Todos devem ser avaliados uma vez por ano durante cinco ou seis anos, que é o período que o bacilo pode estar no organismo sem se manifestar”, adverte o dermatologista.
Higiene e qualidade de vida
São justamente países com condições mais precárias de higiene e superpopulação, caso de Brasil e Índia, que têm maiores incidências da doença. A transmissão se dá através de contato íntimo e contínuo com o doente não tratado, por via respiratória, e não pelo toque ao paciente. O diagnóstico da hanseníase deve ser feito pelo dermatologista, e envolve a avaliação clínica do paciente, além de testes e, em alguns casos, biópsia. É importante lembrar que a hanseníase é uma doença totalmente curável, e não há motivo para preconceito.
A melhor forma de prevenir a doença é mantendo o sistema imunológico eficiente. Ter boa alimentação, praticar atividade física, manter condições adequadas de higiene também ajudam a manter a doença longe, pois, caso haja contato com a bactéria, logo o organismo irá combatê-la. “Em alguns casos, se cura até sozinha”, diz o médico.
Segregação
Antigamente, o destino dos hansenianos era a segregação. No Rio Grande do Sul, o Hospital Colônia Itapuã, a cerca de 60km de Porto Alegre, foi inaugurado em 1940. Na época, atendia a uma política de saúde pública que excluía indivíduos portadores de hanseníase, sendo responsável por atender toda a população do Estado. Recebeu, ao longo de sua história, 1.454 pessoas oriundas de diferentes lugares, e muitas vezes separadas de suas famílias e encaminhadas à força.
Hoje, o HCI conta com cerca de 90 moradores-pacientes (a maioria com sofrimento psíquico e alguns ex-hansenianos). Eles são mantidos pelo Estado, com assistência não só de moradia, mas também de uma política que visa ao resgate da cidadania e a reintegração social. O complexo abriga ainda, desde 2014, um memorial que mantém viva a história do local, através de fotografias, equipamentos e a reprodução de ambientes, como os consultórios da época.
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