Entre insuficiências: a realidade da nefrologia no Rio Grande do Sul
A Luta

Entre insuficiências: a realidade da nefrologia no Rio Grande do Sul

A segunda-feira ainda nem amanheceu e Leandro já está de pé. São 4h30 e a esposa também já se levantou, está pronta para sair. Chega a quarta e sem demora a sexta-feira, o ritual se repete. Não é que o...

Compartilhe

24/09/2018 14:06

Dificuldades na nefrologia gaúcha
Com o número de clínicas de nefrologia em decréscimo, pacientes precisam percorrer centenas de quilômetros por semana. Foto: Divulgação/Simers
A segunda-feira ainda nem amanheceu e Leandro já está de pé. São 4h30 e a esposa também já se levantou, está pronta para sair. Chega a quarta e sem demora a sexta-feira, o ritual se repete. Não é que o casal goste de madrugar: essa é a rotina daqueles que possuem insuficiência renal. Morador de General Câmara, município localizado a 80 quilômetros de Porto Alegre, Leandro Chaves de Oliveira, 52 anos, precisa se deslocar até a Capital três vezes por semana para realizar hemodiálise. A esperança que tem movido ele e a esposa - que faz questão de acompanhar o tratamento de perto - a percorrerem cerca de 500 quilômetros por semana durante os últimos cinco anos é prolongar seu tempo de vida. Assim como ele, outros 5,8 mil pacientes gaúchos precisam de Terapia Renal Substitutiva (TRS). E a tendência é de aumento na demanda: a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) estima um crescimento de 10% ao ano da população em diálise.  Na contramão, o número de clínicas especializadas na área tem diminuído gradualmente, com fechamentos em cidades como Porto Alegre, Cachoeirinha, Canela, Frederico Westphalen e Santa Rosa. Os motivos são inúmeros e preocupam profissionais e pacientes.

Luta pela vida

Foi uma dor nas costas que mudou a vida de Leandro. Após consultas e exames, ele descobriu que o rim direito estava tomado por cistos - alguns chegavam a até sete centímetros. Encaminhado a um especialista, não demorou para começar o tratamento com punções a laser e medicações. O quadro se agravou quando ele sofreu uma queda durante o trabalho e teve uma lesão importante nas pernas. Mais medicações para tomar e o rim esquerdo também ficou comprometido. Ele relembra que chegou em Porto Alegre no dia 6 de outubro de 2017, em situação grave. Durante alguns dias, permaneceu na emergência com uma expectativa de vida de poucos meses. O cansaço da estrada, somado ao procedimento  (que dura em torno de quatro horas), emocionam o paciente, que é pai de três filhas e recentemente foi demitido do emprego. “Com certeza poder fazer a hemodiálise melhorou minha vida desde que descobri esses problemas de saúde. Não estou sofrendo com dores, mas isso também não significa que é fácil”, revela ainda. São histórias como a dele que motivam os profissionais da área a seguirem na luta. No entanto, a nefrologista e diretora do Simers Gisele Lobato ressalta que poucos ainda se aventuram na área. “A rotina intensa e a falta de valorização têm levado a uma baixa procura pela residência em nefrologia. Hoje, há apenas 329 profissionais no Estado”, explica.

O que está por trás?

Baixa remuneração dos procedimentos, dificuldade no cumprimento das exigências legais para o setor, além da alta carga tributária, são alguns dos fatores que ajudam a explicar as dificuldades da nefrologia, que afetam diretamente médicos e pacientes.
  • Valor da sessão de hemodiálise calculado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia: R$ 256,98
  • Valor pago pelo Sistema Único de Saúde: R$ 194,20
  • 13,43% da receita de uma clínica de nefrologia é destinada para pagar impostos e contribuições
  • Para aqueles que dependem do sistema público para realizar a Terapia Renal Substitutiva (TRS) - totalizam 90% dos pacientes gaúchos -, mais um problema tem preocupado: as definições trazidas pela Portaria 1.675/2018. Em vigor desde junho deste ano, ela proíbe que as clínicas privadas de nefrologia façam as consultas ambulatoriais dos pacientes atendidos em convênio com o  SUS. Para Gisele, a questão é para onde irão os pacientes do SUS, já que os hospitais públicos e filantrópicos, que passam a ser responsáveis exclusivos pelo serviço, não têm condições de absorver. “Não há fila de espera para diálise ou hemodiálise, pois quem não tiver acesso ao tratamento não vai sobreviver. Então, a única escolha é lutar por todas essas vidas”, destaca ainda a diretora do Simers.
    Tags: Nefrologia Hemodiálise terapia renal substitutiva clínica de nefrologia diálise

    Aviso de Privacidade

    O Simers utiliza cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para melhorar a experiência de usuário. Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.

    Ver Política