Em Alvorada, a família da aposentada Zilá Bueno da Silva recebeu o retorno para uma consulta 11 anos após a sua morte e 15 após o envio do pedido pelo atendimento de um reumatologista. Em Cachoeirinha, a dona de casa Norina Reus Vieira, de 80 anos, esperou quatro anos por uma consulta com especialista para tratar a osteoporose. Essa é uma realidade cada vez mais comum entre pacientes que aguardam por consultas, exames ou procedimentos em determinadas especialidades - um cenário que difere do apresentado por uma pesquisa divulgada recentemente pelo governo federal.
O balanço mostra que as regiões Sul e Sudeste reúnem 72% dos médicos com especialidades. Conforme dados do Cadastro Nacional de Especialistas (CNE), lançado pelo Ministério da Saúde no final de abril, o Rio Grande do Sul é um dos estados com maior concentração de médicos especialistas. São 169 para cada 100 mil habitantes. O estado fica atrás apenas do Distrito Federal e Rio de Janeiro, com 275 e 178 médicos para cada 100 mil habitantes, respectivamente.
Apesar de reunir uma considerável parcela destes profissionais, o Rio Grande do Sul ainda sofre com a má distribuição dos médicos pelas escassas condições de trabalho e remuneração entre as regiões, o que contribui com filas de espera de anos, prejudicando especialmente a população. Segundo levantamento divulgado em 2015 pela Federação das Associações de Municípios (Famurs), o Rio Grande do Sul acumula 250 mil pedidos de consultas, exames e cirurgias pelo Sistema Único de Saúde.
Em algumas cidades, a demanda por procedimentos é tão grande que a espera pode passar de quatro décadas. Em Alvorada, por exemplo, a situação é uma das mais críticas. Se um paciente solicitar uma cirurgia geral e ele for para o fim da fila, o tempo médio de espera será de 29 anos. Se o paciente precisar de um reumatologista, o tempo será de 43 anos. Esta situação ocorre devido as oportunidades de trabalho e valorização que concentram os médicos nos grandes centros, garante o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, César Baaklini. “Isto acontece devido a infraestrutura, pois é onde estão localizados os centros formadores e onde estão as melhores oportunidades de mercado que garantem a sobrevivência”, explica.
O professor titular de reumatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ricardo Machado Xavier, atesta que é real a falta de especialistas na saúde pública do Rio Grande do Sul graças a desvalorização salarial e até mesmo falta de concursos nas cidades. O aumento da demanda, associado especialmente ao envelhecimento populacional, é outra condição que faz com que mais pessoas precisem deste médico, informa Xavier. “Mesmo com aumento da oferta de vagas em residências de reumatologia, como aqui na UFRGS, por exemplo, onde até cinco anos atrás dispúnhamos de uma vaga e hoje temos três, ou seja, estamos formando mais reumatologistas, ainda há necessidade de mais profissionais”, esclarece.
Plano de carreira é a solução
A solução para uma distribuição democrática de médicos é luta antiga do Sindicato Médico do RS (SIMERS): um plano de carreira estadual, nos moldes do que é praticado para juízes e promotores, que permita ao médico estar no interior, com garantia de avançar progressivamente.
Os médicos, após 10 mil horas de formação, precisam se submeter a salários iniciais por volta de R$ 2 mil para rotinas árduas e em condições, em geral, precárias, sem garantias de ascender na carreira. Enquanto isso, os juízes, que contam com carreira de Estado, têm salários iniciais ao redor de R$ 24 mil e perspectivas de conseguir, a médio prazo, atuar na cidade de sua preferência. Não à toa, não faltam juízes e promotores pelos recônditos do país.
Você pode ajudar a mudar essa situação!
Com o objetivo de melhorar a saúde do Rio Grande do Sul, o SIMERS está mapeando as principais necessidades no Estado. Acesse
www.desejosparasaude.com.br e informe o que você deseja de melhorias para a saúde na sua cidade. Os resultados dessa votação serão levados diretamente aos candidatos a prefeito, vereador e aos atuais gestores dos municípios gaúchos, cobrando um plano de ação efetivo para a solução dos problemas apontados. Contamos com você. Participe!