Bisturi. Tesoura. Pinça. Agulha para sutura e tantos outros instrumentos. Equipe a postos. Vai começar mais uma cirurgia no bloco que já recebeu milhares de pacientes, embora cada um seja único e com tantas especificidades. Cada um requer a mesma dedicação, atenção e estudo por parte do médico que guiará a cirurgia. Adrenalina e concentração andam lado a lado durante as horas que seguirão e fazem parte da essência do ser cirurgião. Todo dia é um belo dia para salvar vidas, diria um famoso e ficcional personagem de um seriado baseado na vida e rotina
hardcore destes especialistas.
Salvar uma vida não é simples. Eles cortam, removem tumores, refazem partes do corpo, restauram órgãos. Ser um cirurgião é uma tarefa que exige anos de preparação, treinamento e experiência, mas a sensação de devolver qualidade de vida aos pacientes é realizadora. “Proporcionar que alguém possa retomar sua vida ou se curar de alguma doença é o que nos move”, revela um cirurgião geral, em entrevista ao Sindicato Médico do RS (SIMERS).
Segundo o especialista, muitas vezes o sentimento é paradoxal, visto que uma cirurgia implica em uma agressão ao corpo humano, mexe com todo o organismo, apesar dos benefícios que se buscam com ela. Muitos procedimentos geram retorno imediato, como o de correção da acalasia, que é a dificuldade para engolir. “Tratei mês passado um paciente que sequer conseguia ingerir líquidos. Devolver o bem-estar desta pessoa, que pode recuperar sua rotina, vê-la se emocionar e chorar ao poder simplesmente tomar um copo d’água, se sentir bem e viver normalmente é gratificante”, garante.
Esta e outras intervenções fazem parte do cotidiano do médico. É comum receber pacientes que sofrem com refluxo, jogadores de futebol amador impedidos de manter a atividade ou mesmo brincar com seu filho por causa de uma hérnia. Estes são apenas alguns exemplos dos procedimentos que restauram a dignidade de pessoas acometidas por algum problema de saúde. Outros, mais complexos, exigem ainda mais tempo e concentração. São as cirurgias de grande porte e que podem se estender por longas horas.
Mais do que o período que se dedica para um único procedimento, está o grau de dificuldade imposto. A cirurgia para retirada de câncer de esôfago, por exemplo, é uma das que envolvem trabalhar muito próximo ao coração, artéria aorta e vasos importantes. “É preciso se preparar antes, estar extremamente focado durante a cirurgia e isso exige um condicionamento e preparo físico e emocional. A adrenalina de estar lidando tão próximo a órgãos muito importantes nos coloca num nível de atenção extremamente elevado e isso gera uma pressão absurda”, revela o profissional.
Ser cirurgião envolve conhecimento, destreza e treinamento contínuo. É ser hábil para lidar com o imprevisto de qualquer intercorrência durante uma operação. Inclui devoção, milhares de horas de capacitação, exercícios para afinar técnicas, incontáveis plantões e cirurgias assistidas e praticadas. Para aqueles que desejam salvar vidas todos os dias, o médico dá o recado: “É preciso estudar muito, praticar dentro e fora da academia, seguir seus preceptores, assistir ou participar de cirurgias. É também entender que este mundo é muito mais de entrega, mas recebemos gratidão em troca e isto não tem preço”, finaliza.