A cada ano, o Brasil registra cem mil novos casos do Mal de Alzheimer e metade das pessoas que têm a doença não sabe. Os dados alarmantes preocupam os médicos que atendem a esse público. Segundo especialistas, a estrutura da saúde pública não está preparada para assistir os mais de 1,2 milhão de pacientes que já sofrem com a doença e a perspectiva é arrasadora. No mundo, de acordo com o Relatório Mundial de Alzheimer, publicado no ano passado pela Federação Internacional de Alzheimer, a cada três segundos uma pessoa começa a apresentar sintomas de demência.
Conforme a professora do Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da UFRGS e Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Marcia Chaves, existem medidas para melhorar o diagnóstico e oferecer as medicações que estão no mercado atualmente. Porém, é preciso uma infraestrutura muito maior para garantir o tratamento ideal aos pacientes com Mal de Alzheimer. “Não há estrutura para atendimento, como cuidadores, terapias não farmacológicas, fisioterapia, terapia ocupacional, aconselhamento das famílias e outros”, adverte.
Do ponto de vista médico, o aumento dos casos está associado à preocupação e consciência dos profissionais sobre as doenças que causam demência, bem como a divulgação de informações. Para ela, há duas formas de encarar o crescimento de pacientes sofrendo com este problema: proporcionar qualidade de vida a essas pessoas e buscar identificar a doença o quanto antes para garantir um tratamento que evite o agravamento do quadro. “No plano individual, podemos focar nas dificuldades de memória em um paciente mais velho que busca atendimento clínico, por exemplo. A outra, é a organização dos serviços médicos com objetivo de identificar mais, melhor e mais precocemente”, explica.
Conforme Marcia, o diagnóstico precoce pode ser feito quando uma pessoa apresenta dificuldades cognitivas, mesmo que não sejam graves e que não afetem a sua independência. “Quando um indivíduo acima dos 55-60 anos começa com queixas de memória ou de outras dificuldades, como linguagem ou encontrar palavras, deve-se procurar avaliação apropriada. Poderá ser uma causa tratável, como depressão, mas poderá ser um comprometimento cognitivo leve devido a uma doença que causa demência, como Alzheimer”, esclarece.
Não existe cura para o Mal de Alzheimer, por isso, a maior expectativa dos especialistas hoje é a descoberta de tratamentos que reduzam ou interrompam a evolução da doença, que ainda não estão disponíveis apesar de muita investigação a respeito. Para a neurologista, as abordagens não farmacológicas são essenciais para amenizar os sintomas. “A compreensão por parte dos familiares sobre a doença também afeta muito a ocorrência de sintomas comportamentais. O ambiente onde o paciente vive é um determinante. A identificação de sintomas neuropsiquiátricos e tratamento adequado também influencia a progressão”, garante.
Um dos desafios do médico que lida com pacientes com Alzheimer é cuidar também da família. De acordo com Marcia, o tratamento principal ocorre através de familiares e cuidadores, o que torna determinante o vínculo com estes para o sucesso do atendimento. “Na medida em que a doença evolui, é normal que este esqueça até mesmo do seu médico. Cada consulta é como se fosse a primeira para o paciente e com o agravamento da doença, nas fases mais avançadas, este atendimento obrigatoriamente passa a ser domiciliar. Oferecer aos familiares grupos de apoio ajuda muito no atendimento”, completa.