O número de escolas privadas de Medicina no Brasil passou de 64 para 154 em pouco mais de uma década, entre 2003 e 2015, enquanto no mesmo período as unidades públicas subiram de 62 para 103. Os dados são da Radiografia das Escolas Médicas do Brasil, levantamento organizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2015. O estudo alerta para o problema do crescimento desgovernado e sem qualidade que afeta o sistema formador de futuros médicos no país.
A criação dos novos cursos de Medicina não é bem recebida pelo presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes. Ele afirma que o Brasil não enfrenta falta de médicos e diz que o problema está na distribuição inadequada desses profissionais, concentrando-se nas grandes cidades.
“A população é duplamente enganada. Primeiro, porque pensa que os formados em determinada cidade vão permanecer nela. Segundo, porque pensa que não há médicos por falta de disponibilidade de profissionais. Não é verdade. O Ministério da Saúde mostra no seu portal que o Brasil já tem o dobro de médicos necessários”, destaca Argollo, que defende a criação de um programa estadual para alocar médicos no Interior.
De acordo com Argollo, só em Porto Alegre existem quatro vezes mais médicos do que em toda a Inglaterra, ao passo que no interior do Estado vários municípios não contam com profissionais em número suficiente. Ainda segundo ele, o Brasil tem 2,11 médicos para cada mil habitantes, índice superior a países como China (1,5 médico por mil habitantes) e Chile (1,6 médico por mil habitantes).
No Rio Grande do Sul, os números deixam clara a disparidade na distribuição dos médicos entre Porto Alegre e o Interior. Na Capital, em 2015, existiam 13.068 profissionais (8,9 por mil habitantes), enquanto no Estado a média era de 2,46 médicos por mil habitantes, no mesmo período. Por isso, sugere Argollo, o ideal seria a criação de uma carreira estadual de médico por meio de concursos públicos, como ocorre com os juízes, facilitando a distribuição dos profissionais pelo Interior.
“Certamente, o que falta é investir na saúde, construir hospitais e estruturas, e não abrir escolas privadas que são verdadeiros caça-níqueis para trazer dinheiro para alguns. Além disso, não temos controle de qualidade das faculdades. O curso da UFRGS tem 10.500 horas-aula. Os novos cursos estão sendo autorizados a terem a partir de 7.200”.
Em setembro, o Ministério da Educação divulgou através de portaria a relação de três universidades do Rio Grande do Sul que receberiam novos cursos de Medicina. Elas estão situadas em Novo Hamburgo, São Leopoldo e Erechim. A faculdade localizada em Ijuí desistiu de ofertar o curso de Medicina. O MEC está finalizando o processo na busca de alternativa na região.
Em São Leopoldo, o Hospital Centenário será transformado em hospital-escola. Para completar os cinco leitos por estudantes totalizando 325 leitos nos hospitais localizados em Sapiranga e Estância Velha darão apoio ao Centenário. Em Novo Hamburgo, o hospital-escola será o Hospital Municipal de Novo Hamburgo. Já em Erechim, será o hospital Santa Terezinha que possui aproximadamente 190 leitos.
Para chegar aos 250 leitos necessários, os hospitais de Getúlio Vargas, distante 33 Km de Erechim, e Nonoai, a 90 km darão apoio assegurando a meta de cinco leitos do Sistema Único de Saúde por egresso, exigida pelo Ministério da Educação. A seleção para ingressar nessas universidades será a nota do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médico).