Entre jovens na faixa etária de 15 a 19 anos o suicídio é um perigo real. Mata mais do que o vírus HIV. Apesar dos dados alarmantes, suicídio ainda é um tabu a ser derrubado pela sociedade, governo e imprensa. Pouco se fala sobre o assunto com medo de que novos casos aconteçam. O fato é que precisamos debater esse tema já que o Brasil tem altos índices de suicídio. Os casos de suicídios entre crianças e adolescentes aumentaram em 40%. Os números foram fornecidos pela psiquiatra integrante do Comitê Estadual em Defesa da Vida e Prevenção do Suicídio, Roberta Grudtner.
Segundo dados do Datasus ocorreram em 2014, 1.112 suicídios no Rio Grande do Sul. Destes, 110 foram em Porto Alegre, 44 em Caxias, 33 em Pelotas, 31 em Santa Maria, 22 em Novo Hamburgo, 20 em Rio Grande e Passo Fundo, 19 em Canoas, 17 em Santa Cruz e 14 em Venâncio Aires.
Um estudo apresentado recentemente no Ciclo de Avanços de Psiquiatria da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul mostra que os Vales Taquari e Rio Pardo são as regiões com maior índice de suicídios no país.
Conforme o coordenador do Comitê de Prevenção ao Suicídio da APRS (Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul), Rafael Moreno Ferro de Araújo, através desse estudo três tabus foram quebrados: o agrotóxico seria a principal causa das mortes, pessoas com descendência alemã estariam mais propensas a se matarem e os números aumentam em munícipios mais frios. “Comprovamos que o aumento do suicídio está no fato de ser agricultor. A pessoa que mora em zona rural enfrenta o isolamento social. O vizinho mais próximo geralmente está a quilômetros de distância, sem contar a questão financeira, a pressão de quitar o empréstimo feito para pagar a safra. Dentro da cultura dessas pessoas o suicídio seria a solução para resolver os problemas. Sobre a colonização alemã ser mais propícia ao suicídio, verificamos que os descentes de colonização italiana têm as mesmas chances de tirar a própria vida. Já sobre o clima, constatamos que o índice de suicídio aumenta na primavera e no verão”, alerta Araújo.
Entre as causas para o suicídio estão fatores estressantes como separação e traição; sociais, econômicos e religiosos. “Segundo os últimos estudos a depressão sozinha não aumenta o risco da tentativa de suicídio, tem que haver algo a mais como alcoolismo e traumas infantis. 90% dos suicidas têm transtornos mentais, sendo que a bipolaridade e o transtorno de estresse pós-traumático são os mais fortemente associados como tentativas”, diz o psiquiatra.
Para Rafael, com base nos estudos de 2016, só existem duas formas de prevenção. “O estado deve investir capacitando profissionais da saúde para que eles possam identificar e tratar pacientes em risco de suicídio; e tentar diminuir o acesso ao método letal como corda, arma de fogo e veneno, o que é uma tarefa difícil principalmente no meio rural”.
Prevenção
“A prevenção passa por uma escuta sensível onde a pessoa que fala sobre
querer morrer, querer se matar, a vida não vale mais a pena, eu não deveria estar viva, só atrapalho os meus familiares, isso é um pedido de socorro. Significa dizer para questão do suicídio que cão que late morde. Ao contrário do que as pessoas dizem que quem quer se matar não fica falando, vai lá e faz. Isso não é verdade. Quem está pensando em cometer algo contra a sua própria vida verbaliza a ação e é dessa forma que ele pede ajuda”, destaca Roberta. A psiquiatra ressalta inclusive a importância de pais, professores e responsáveis prestarem atenção nas falas das crianças. “É preciso que fiquem atentos porque quando a criança diz que não queria ter nascido, não queria ter saído da barriga, que quer ir embora, ela está pedindo ajuda. O suicídio é um problema de saúde pública, mas essencialmente é um problema de todos nós. A área da saúde tem que estar capacitando e trazendo para toda a população e sociedade a informação sobre prevenção do suicídio. A cada 10 casos, 9 podem ser evitados e a principal prevenção é a escuta sensível e o poder falar sobre isso. O simples fato de conversar sobre o assunto significa poder prevenir”, conclui Roberta.
Ajuda
Quando uma pessoa se sente sozinha, deprimida ou prestes a tirar a própria vida ela pode buscar apoio ou até mesmo chamar ajuda ligando para o CVV (Centro de Valorização da Vida) através do número 188, a qualquer hora do dia. “No Brasil, os 2000 voluntários do CVV atendem em 30 cidades uma média de 1 milhão de pessoas por ano. Já no Rio Grande do Sul, os 200 voluntários realizaram em 11 meses 190 mil atendimentos em seis cidades”, destaca o médico voluntário e coordenador da CVV aqui no estado, Vitor Stumpf.