20/02/2016 08:00
Comunicar o diagnóstico de doença a um paciente é uma das etapas mais complicadas do trabalho de qualquer médico. Atualmente, os casos de câncer têm se tornado cada vez mais comuns e essa comunicação, como consequência, não é fácil para todos os envolvidos. A transparência na informação tem sido uma aliada dos oncologistas, especialistas responsáveis pelo tratamento de pacientes com essa doença.
Explicar os detalhes do tratamento sempre fez parte das habilidades do médico. O que tem mudado é perfil do paciente, que está mais informado e quer saber ainda mais sobre todas as possibilidades. Neste caso, a conduta adequada é responder todas as suas dúvidas. Esse é o método utilizado pelo oncologista e pesquisador do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, Luiz Bruno. Ele acredita na aproximação e no esclarecimento de todos os fatos que envolvem a recuperação. Para o especialista, elucidar todos os fatos é o mais apropriado para ajudar ainda mais o paciente, uma vez que ciente de todos os passos, ele terá mais clareza e possibilidade de combater a doença. “Fiz um treinamento no Estados Unidos que tem essa cultura de focar na transparência das terapias e busco aplicar aqui. Porém, nem assim é mais fácil contar a um paciente que ele tem câncer e como serão dolorosos e duradouros os procedimentos pelos quais terá que passar. Mas é claro que sofremos junto”, ressalta.
O sentimento do médico é colocado à prova diariamente. Cada vez mais ele se depara com novos casos de uma doença assustadora, de procedimentos desgastantes física e emocionalmente, com a missão de oferecer apoio, técnica e suporte emocional. Isto porque, neste mês de fevereiro, é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) divulgou dados preocupantes sobre a doença. Segundo o órgão, o Brasil terá 600 mil novos casos de câncer em 2016. Outra previsão garante que até 2020 haverá um aumento de 14% na ocorrência da doença no Brasil e que poderá dobrar nos dez anos seguintes.
Além de lidar com a perspectiva de mais pessoas enfrentando o câncer, o especialista revela o esgotamento causado por uma patologia grave. Apesar de uma considerável parcela de tipos de câncer possuir cura, enfrentá-los é uma tarefa árdua. “Convivemos com dramas diários, com diagnósticos que muitas vezes são uma sentença de morte, mesmo com a possibilidade de cura. Passar por isso é difícil e acarreta em uma carga emocional fortíssima”, explica.
Bruno relata que os colegas da área observam ao longo dos anos o crescimento dos dados de câncer e projeções que indicam que a doença deverá ser a mais prevalente entre os brasileiros. Para ajudar nessa luta, o médico precisa também estar atento à intensidade de emoções do paciente com câncer e apostar, especialmente, na proximidade e em estudos recentes, mas também exigir das autoridades mais pesquisas e atenção à área. “É uma tendência que preocupa os médicos. Proporcionamos aos pacientes todas as medidas e aumento na expectativa de vida. Nos preparamos para isso, do ponto de vista científico. É fundamental que os órgãos, especialmente os governos, também tenham esses números em conta para a criação de políticas públicas eficientes no sentido de prevenção e tratamento”, avisa.
Perdas irreparáveis e vitórias contra o câncer
As perdas de pacientes com câncer não costumam ser repentinas e, infelizmente, são comuns no cotidiano. Ainda assim causam grande comoção nos médicos que os cuidam, mesmo nos casos em que o tratamento garantiu uma sobrevida significativa diante da gravidade da doença. “Quando nos afeiçoamos, naturalmente sofremos muito com a perda de um paciente e entramos em luto. Isso acontece com frequência, pois são muitos anos acompanhando aquela pessoa nos momentos em que ela mais precisa”, destaca.
As vitórias geralmente são antecedidas por anos de espera e longos tratamentos. Alguns tipos de câncer podem levar anos para desaparecer e exigem diferentes terapias. De acordo com o médico, algumas podem levar entre quatro e cinco anos, outras entre dez e 15. “Vitória para mim é quanto um paciente retorna para consultar e está bem, ver que os mais jovens constituíram família ou que os mais velhos estão com qualidade de vida. Uma em especial me chama a atenção. Tratei um senhor, com um linfoma, durante três anos no final da década de 80, e depois disso fui para os Estados Unidos. Quando retornei, seis anos depois, ele me procurou, num Natal, para entregar um presente por ter ajudado a lhe curar. Fiquei emocionado ao lhe rever bem. É muito gratificante”, completa Bruno.