19/04/2016 12:10
Em meio a uma crise econômica sem precedentes na história do país, os Jogos Olímpicos 2016, que serão realizados em agosto apenas na cidade do Rio de Janeiro, vão custar mais de R$ 39 bilhões. A cifra exorbitante soa como deboche diante da escassez e corte de investimentos em saúde, que já perdeu esse ano R$ 5,3 bilhões.
O problema não é promover um evento esportivo que se reconhece como relevante para a população. A realidade é que, enquanto isso, os brasileiros padecem na precariedade da saúde pública. A insuficiência de recursos da área e corte nos poucos existentes contribuem para filas intermináveis para qualquer procedimento ou uma consulta médica qualquer, falta de insumos em geral e desvalorização do trabalho dos profissionais.
Os recursos previstos para os Jogos Olímpicos, por parte do governo federal, somam R$ 2,3 bilhões. O valor ainda pode sofrer alterações, conforme a evolução das obras. Desde 2011 até o momento, já foram gastos mais R$ 90 milhões diretamente pelo Ministério do Esporte para os Jogos Olímpicos.
Do total da matriz de responsabilidade (R$ 7,07 bilhões), que são os investimentos necessários para o RJ receber os Jogos Olímpicos, a fatia de dinheiro público (repasses das esferas federal, estadual e municipal) aumentou de 36% para 40% entre agosto de 2015 e janeiro de 2016, ou seja, aproximadamente R$ 3 bilhões. A explicação é que o investimento da iniciativa privada foi concentrado nos primeiros anos do projeto, até 2011. "Dificilmente a gente vai conseguir algo do setor privado agora", admitiu o prefeito Eduardo Paes. "Se a gente tivesse atrasado as coisas, a conta do setor público seria muito maior", concluiu.
Um levantamento publicado no portal R7 informou que se os gastos públicos nos Jogos de 2016 fossem direcionados à saúde pública, seria possível construir de 600 a 1.090 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 horas ou 3.104 unidades básicas de saúde (UBSs). Conforme o portal UOL, a competição será mais cara do que os R$ 27,1 bilhões demandados pela Copa do Mundo de 2014.
Ministério da Saúde concede R$ 30 milhões para os Jogos Olímpicos
Parte da verba prevista para os Jogos Olímpicos vem do próprio Ministério da Saúde. Serão R$ 30 milhões para operacionalizar ambulâncias que farão o transporte de pacientes durante os jogos. A transferência foi dividida em três parcelas de R$ 10 milhões cada, disponibilizadas nos meses de março, abril e agosto. Compra de insumos e combustível estão na lista de disponibilidade do recurso, segundo a publicação no Diário Oficial da União no dia 22 de março.
Eventos esportivos consomem verba pública e deixam legado obsoleto
Assim como os Jogos Olímpicos, outro evento esportivo sugou verba pública e deixou obras obsoletas pelo país. O legado da Copa do Mundo no Brasil, realizada em 2014, não foi o que se esperava.
Em Manaus, por exemplo, a Arena da Amazônia custou quase R$ 700 milhões e tem um custo de manutenção mensal que passa dos R$ 500 mil, valor que fica por conta do governo do Estado. Poucas partidas são realizadas no estádio e os clubes locais reclamam do alto custo para bancar sua utilização. O mesmo acontece na Arena Pantanal, em Cuiabá, que acumula prejuízos com uma manutenção mensal de mais de R$ 1 milhão.
Quase dois anos após o evento, obras para o transporte público, trânsito e melhorias urbanas não foram concluídas. Um levantamento do jornal Zero Hora divulgado no final do ano passado, apurou que em Porto Alegre, por exemplo, das 15 obras planejadas para o torneio de futebol, 11 venceram o prazo de conclusão previsto na ordem de início das obras, três foram entregues e a ampliação do terminal do aeroporto Salgado Filho, segue em andamento. Iniciada em outubro de 2013, deveria ter a primeira etapa da obra pronta antes da Copa do Mundo de 2014. A nova previsão da Infraero é de que seja concluída em outubro deste ano.
Com informações de Matriz de Responsabilidades Rio 2016 (versão 4, jan/16)/ Plano de Políticas Públicas (versão 2, jan/2015)/ CGU/ Uol.com.br/ Estadão/ ZH/ R7.