Enquanto a saúde pública agoniza e unidades de saúde fecham as portas para a população por falta de recursos, prefeituras repassam verba para gastos menos emergentes, como é o caso do Carnaval.
Um portal de notícias da serra gaúcha divulgou semana passada que a prefeitura de Caxias do Sul pretende investir R$ 500 mil no Carnaval de rua do município. Ao mesmo tempo, outro veículo de comunicação da região noticiou dias antes que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade não tem previsão para abrir e que depende da aquisição de equipamentos.
Conforme a reportagem, mesmo com o prédio concluído há quase dois anos, a Secretaria Municipal da Saúde ainda não tem condições de estimar um prazo para que a unidade finalmente abra as portas. A verba destinada ao Carnaval poderia auxiliar na compra dos bisturis, raio-x, desfibriladores, eletrocardiograma, respiradores, camas hospitalares, entre outros itens que travam o início do funcionamento do local.
Na rede social Facebook, um evento foi criado para “celebrar” o
Carnaval SUS 2016 - Caxias do Sul. A página anuncia, com ironia, a inclusão da ala dos doentes e macas alegóricas e alfineta a administração municipal após as afirmações da secretária de saúde, Rubia Frizzo, garantindo o patrocínio para o evento.
Porto Alegre mantém Carnaval, mesmo com falta de remédios
Nem a falta de remédios nas farmácias públicas de Porto Alegre sensibiliza as autoridades competentes a aplicar os recursos para este fim. O patrocínio da Prefeitura para o Carnaval está mantido. Segundo o coordenador de Manifestações Populares da Secretaria Municipal de Cultura, Joaquim Lucena, serão R$ 6 milhões para gastos gerais e R$ 2,1 milhões repassados às agremiações.
Esse valor seria mais do que suficiente para resolver o problema de falta de medicação noticiada pelo jornal Diário Gaúcho no início de janeiro, quando a população ficou pelo menos 10 dias sem mais de 100 medicamentos básicos. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o principal motivo para a falta das medicações seria o atraso de repasse em verbas federais (R$ 610 mil) e estaduais (R$ 280 mil) para a compra dos remédios.
Crise cancela folia no RS
A realidade dos festejos carnavalescos neste ano é que grande parte dos municípios gaúchos está cancelando os desfiles. Conforme um levantamento parcial da Federação das Associações de Municípios (Famurs), 94 cidades gaúchas não terão Carnaval em 2016. O motivo é a crise dos municípios. A pesquisa apontou que as prefeituras gaúchas tiveram perda de R$ 956 milhões em 2015, relativo à redução nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do ICMS. "A crise financeira que afeta os municípios atinge agora a cultura. Não investir no Carnaval é uma decisão dura, mas necessária em um momento de poucos recursos", lamenta o presidente da Famurs, Luiz Carlos Folador.
Ao mesmo tempo, outros municípios que estão com dificuldades de investir na tradicional festa usam o recurso que seria para o Carnaval para a saúde. Os R$ 40 mil que seriam gastos com shows e decoração em Campinas do Sul, por exemplo, serão usados na reforma do Hospital Municipal. Dos 42 leitos, 36 estão sendo totalmente reformados. A obra começou no início deste ano e tem prazo de 90 dias para terminar. Ao todo, serão gastos R$ 600 mil.
Pelo país - No Brasil, pelo menos 48 cidades de oito estados decidiram cancelar o Carnaval 2016, a maioria por causa da crise financeira que deixou os cofres públicos mais vazios. A falta de verbas afetou desde grandes carnavais, como o de Macau, considerado o maior do Rio Grande no Norte, até festas do interior de São Paulo e do Sul de Minas.