Amor de mãe: curativo, incondicional e, principalmente, sem culpa!
A Vida

Amor de mãe: curativo, incondicional e, principalmente, sem culpa!

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12/05/2023 18:15

Falar em amor de mãe é mergulhar em um mundo onde tudo é possível. Um sentimento tão poderoso que consegue romper barreiras, superar desafios e mover montanhas. E a sua força também é comprovada pela ciência. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington revelou que crianças criadas com afeto materno têm cérebros com o hipocampo — estrutura chave para o aprendizado, memória e resposta ao estresse — quase 10% maior que as demais. Entretanto, o amor de mãe não transforma apenas o desenvolvimento dos filhos.

Para falar sobre a maternidade e seus ensinamentos, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) preparou este texto especial de Dia das Mães, uma conversa com médicas que compartilham suas experiências naquele que, talvez, seja o maior desafio na vida de muitas mulheres. Afinal, ser mãe já deixou de ser um sofrimento de quem padece no paraíso, para dar lugar a pessoas que se reinventam em suas mais diferentes realidades. Tudo para serem as melhores mães que podem ser: as de seus filhos.

Boa leitura!

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Mãe de coração

Uma das primeiras mulheres negras a se especializar em Pediatria, no Rio Grande do Sul, Isabel Constancia dos Santos, 75 anos, viu a sua vida mudar no primeiro ano da Residência Médica. Na época, aos 29 anos, ela atuava no Hospital da Criança Santo Antônio, na Santa Casa de Porto Alegre, e tinha entre os pacientes o bebê Luciano, de apenas três meses, internado para o tratamento de hipotireoidismo congênito — incapacidade da glândula do recém-nascido em produzir quantidades adequadas de hormônios tireoideanos.

A médica explica que ele precisou ficar seis meses no hospital e não recebia visitas, pois a família residia em outro município e não tinha condições financeiras para as passagens. E o pequeno paciente, a quem dedicava o cuidado, foi o primeiro a plantar a semente da palavra mãe em seu coração. “Se criou um . Foi tudo muito rápido e, quando eu vi, já tinha a guarda e ele era meu filho”, conta.

Dois anos depois, vieram as irmãs Paola, Edjana e Khadija, filhas da irmã de Isabel e que foram assumidas pela médica. Uma nova realidade em meio a muitos plantões na Capital e na vizinha Guaíba, além das aulas no Ambulatório de Pediatria do Hospital da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) e, mais tarde, no consultório. E como conseguir conciliar a maternidade com a intensa atividade médica?

“Sempre pude contar com minha mãe e minhas irmãs, sendo que a vida profissional continuou por conta disso. Uma união que reflete até nos dias de hoje. A gente chama a minha casa de o quilombo da casa azul, pois somos apegados à ancestralidade africana, a qual diz que se precisa de uma aldeia inteira para educar uma criança. Nós cumprimos esse papel”, afirma.

Mas a vida de mãe também trouxe muitos questionamentos para Isabel. Apesar dessa proximidade das pessoas queridas e do amor pelas crianças que acolheu, o carrossel de emoções se fez presente, desde o medo da finitude e do fracasso, até o orgulho pelo caminho trilhado pelos filhos de coração.

“Ser mãe é ser guerreira e lutar contra os temores de que algo que aconteça com as crias, pois elas vão estar enfrentando um mundo de preconceitos e violência, desconfiança e menosprezo. E os meus filhos, por serem crianças negras, aprenderam muito bem a lidar com isso. Entretanto, ser mãe também e nunca mais se sentir sozinha, mesmo que o filho não esteja mais na mesma casa, na mesma cidade ou país”, confessa.

Mãe na Faculdade

Quando o primeiro filho de Sabine Braga Chedid, 61 anos, chegou ao mundo, ela estava no final do quinto ano de Medicina, na Universidade de Passo Fundo (UPF). Como ainda faltava um ano para receber o diploma, as atividades da doutoranda contavam com as visitas de Luís Felipe, no Hospital São Vicente de Paulo. “Quando os plantões ocorriam nos fins de semana, os quais iniciavam no sábado e encerravam na segunda-feira, eu recebia Lipe no hospital, para amamentá-lo”, lembra.

Para dar continuidade à formação, a jovem médica se mudou para a Capital, onde faria a pós-graduação em Medicina Interna e Medicina do Trabalho. Dias, tardes e noites de muito trabalho e estudo. “Locamos um apartamento a poucos metros da Santa Casa, o que oportunizou que eu almoçasse diariamente com meu filho. Mas, com a rotina exaustiva para mim e estressante para Lipe, optamos que ele retornasse para Passo Fundo, onde teria mais conforto, estrutura e zelo dos familiares e eu prossegui em Porto Alegre. Nos finais de semana, quando não estava de plantão, vinha ao encontro da família”, conta Sabine.

Já a chegada da filha Ana Paula, nove anos depois, ocorreu em um novo momento na vida da médica, estruturada tanto do lado pessoal quanto do profissional. Igualmente com a presença amorosa da mãe, dos sogros e de pessoas fundamentais para o suporte que possibilitasse a merecida dedicação à arte médica. “Ser mãe é a arte de assumir escolhas. É, talvez, não preparar pessoalmente a sopinha de seus bebês, não tricotar seus agasalhos. Mas, de forma artesanal, tentar formar adultos alegres, com discernimento e livres de preconceitos. E ser uma mãe-médica nada mais é do que uma associação turbulenta, porém, definitivamente gratificante e encantadora”, diz Sabine, que hoje também é diretora da Região Norte do Simers.

E o que mudou na mãe de quase 40 anos atrás na mãe de hoje? Sabine confessa que ainda é a mesma, contando com a ajuda da tecnologia para as demonstrações de afeto aos filhos, que residem em São Paulo e Porto Alegre, estendidas aos netos. “A mãe de hoje segue armando a árvore de Natal, fazendo pegadinhas de coelho com farinha, organizando as caixas de brinquedos. E, quando a saudade fica mais apertada, lembro de tudo o que vivemos juntos e me orgulho do grande homem e da grande mulher nos quais se transformaram. Percorro as redes sociais de ambos para tê-los mais perto e sigo apoiando em suas angústias e ‘tentando’ não interferir em suas escolhas”, confessa.

A busca pelo equilíbro

A verdadeira montanha russa que é conciliar maternidade e profissão também está na rotina da cirurgiã plástica Natassia Lehmann, 33 anos. O nascimento muito desejado de Roberto, há sete meses, chegou em meio a um período de crescimento profissional, no início da carreira como especialista, mas já pensando em adequar o pessoal e o profissional. “Priorizei adiar um pouco alguns planos e estar presente o máximo possível para ele, nesse momento. Por isso, estou trabalhando parcialmente, pois retomei as atividades com horários reduzidos, longe, ainda, da rotina habitual. Portanto, o maior desafio é encontrar o ponto de equilíbrio para conseguir dar o meu melhor”, afirma.

Mesmo com o planejamento, ela conta que o retorno ao trabalho foi um dos momentos mais marcantes nessa nova fase da vida, no qual o misto de alegria pela retomada das atividades e a saudade causada pelo afastamento deixa marcas no coração de muitas mulheres, independentemente da atividade exercida.

“Retomei o consultório após 45 dias do parto, pois achei importante ver alguns pacientes naquele período. Apesar de amar muito o que faço, chorei por uma semana, com culpa de estar me precipitando. Mas viver esse momento com ele compensa!”, lembra Natassia, que contou com a presença da mãe no consultório, para garantir a amamentação exclusiva nos intervalos.

Entretanto, não é apenas a rotina que muda. As emoções também se transmutam, desde o dia em que um exame confirma a gestação. “A gente acha que se conhece até ter um filho nos braços. São novos valores, prioridades e, especialmente, um novo significado para a palavra entrega”, declara. Vale, até mesmo, permitir algo que não estava nos planos. “Me vi fazendo cama compartilhada (rsrsrs). Realmente, a maternidade nos ensina muito sobre flexibilidade e adequação”, reconhece.

Amor vital

A psiquiatra Gabriela Schuster, 51 anos, sabe muito bem como a maternidade consegue despertar um mundo de sensações nas mulheres. Desde o amor incondicional — capaz de dar toda a proteção que o bebê precisa, passando pela infância e chegando à idade adulta, até a tão temida culpa. Mãe da Júlia, 22 anos e que está no nono semestre de Medicina, e da Joana, 16 anos, ela também vivenciou as duplas ou mesmo triplas jornadas de trabalho.

“Me apoiei em pessoas que ocupavam a minha ausência com carinho e sempre mostrei para minhas filhas como era importante meu trabalho, que poderíamos aproveitar melhor nosso tempo livre. Infelizmente, muitas mulheres vivenciam isso sem apoio de mais ninguém. Mas isso deve mudar, uma vez que a conscientização da sociedade sobre a importância do trabalho materno também já é uma realidade”, ressalta.

A diretora do Simers e integrante do Núcleo de Psiquiatria da entidade explica que é fundamental para as mulheres entenderem que a realização pessoal também é importante para os filhos. “A maternidade pode fazer vir à tona habilidades que a mulher desconhecia até então. Ensinará a suportar a dor dos filhos, o seu sofrimento, assim como a delícia de vê-los felizes. E os filhos são capazes de entender a necessidade de afastamento e dedicação a outras funções além da maternidade”, explica.

Ela reitera: “A segurança transmitida pela mãe permite que aquele ser sobreviva. Esse amor é vital!”.

 

Tags: DIA DAS MÃES médicas Mulheres médicas

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