A Luta
Maternidade tardia: o que é preciso saber sobre congelamento de óvulos
21/07/2016 17:00
A medicina avançou muito nos últimos anos, a ponto de permitir que as mulheres possam adiar o sonho da maternidade, seja para focar antes na carreira, por que passarão por quimio ou radioterapia ou mesmo por outras questões pessoais. Porém, o tempo da fertilidade feminina é curto, e a solução pode ser o congelamento de óvulos, ainda fora do alcance para a maioria da população. O procedimento não está disponível na rede pública nem é coberto por planos de saúde.
Existe idade limite para congelar óvulos?
“A maioria das mulheres que procuram tratamento já está na faixa dos 40 anos. Não existe limite de idade para congelar óvulos, mas a partir dos 35 anos há uma diminuição muito grande na fertilidade. Aos 30 anos a paciente ainda não tem essa pressa, mas se congelar esse óvulo jovem, terá mais chance de ele se tornar um embrião”, explica a ginecologista. Quanto mais tarde, pior a qualidade e menor a quantidade dos óvulos. Além de dificultar as possibilidades de gravidez, a idade avançada do óvulo aumenta a chance de doenças genéticas no bebê.Como é o procedimento?
Ao procurar uma clínica de fertilização, a primeira etapa será avaliar a reserva de óvulos da mulher, através de exames de sangue e ecografia transvaginal. “Com esses resultados, orientamos o melhor caminho, de acordo com a fisiologia. O processo é individualizado, o que muda é a estimulação do ovário, que se dá através de medicamentos, com hormônios, por cerca de 14 dias, para que se possa ter o máximo de aproveitamento.” A retirada dos óvulos é feita em procedimento ambulatorial, por via vaginal e com sedação geral. A partir disso, embriologistas identificam óvulos maduros, que são congelados. O processo mais comum, atualmente é a vitrificação, em que as células são submetidas à baixa temperatura de forma abrupta.A estimulação antecipa a menopausa?
“Não, o processo apenas preserva os folículos comuns daquele mês. Ao receber uma alta carga de hormônios, a mulher produz mais óvulos em um mesmo ciclo, o que nada tem a ver com menopausa”, esclarece a especialista.Quanto tempo o óvulo pode ficar congelado?
Não existe um tempo limite, pois o congelamento preserva as características do óvulo. Mas é preciso ficar atenta para não perder o tempo do próprio corpo para enfrentar a gestação. “Existia uma recomendação do CFM até o ano passado de limitar aos 50 anos a fertilização. Hoje, é individualizado, mas em geral tentamos não passar dessa idade, para evitar risco obstétrico. Mas se a paciente é saudável e não apresenta fatores de risco, não tem contraindicação.” Outra questão é o custo da manutenção nos poucos locais que fazem esse armazenamento. “Daqui a pouco pode não haver mais espaço físico para guardar tantas células não utilizadas.”O que fazer se não quiser mais guardar os óvulos congelados?
“O óvulo é uma célula isolada, não foi fertilizado ainda. Então, pode ser desprezado a qualquer momento. É possível descartar ou fazer uma doação anônima. As doações são feitas de forma compartilhada, entre pacientes que passaram pelo tratamento de fertilização.” Ou seja, a mulher que abre mão dos óvulos pode cedê-los a outra que seja infértil, mas não é permitido escolher para quem doar. O processo deve ser sigiloso.É melhor congelar óvulos ou embriões?
“Como reserva para uma gravidez tardia, não aconselhamos o congelamento de embrião, pois nunca se sabe o que vai acontecer com aquele casal até a mulher decidir engravidar”, destaca Rafaella. “Mas o óvulo já fertilizado tem mais chances de sucesso, pois já é um embrião. O congelamento de óvulos representa chance de gravidez futura entre 40 e 50% dos casos.” Por isso, recomenda-se congelar cerca de 10 óvulos. “Em alguns casos, pode-se fazer a estimulação mais de uma vez, para aumentar as chances”, diz a médica. Mas lembre-se que isso acarreta um novo custo com o procedimento.