
Os números
Dados da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul destacam que no ano de 2016 houve 284 doadores de órgãos, 40 a mais do que no ano anterior. Cerca de 1,4 mil pessoas estão na fila de espera por órgãos ou tecidos no Estado. No Rio Grande do Sul, existem 24 equipes que trabalham com a sensibilização das famílias.
Já no Brasil, os dados de dezembro mostravam que cerca de 35 mil pessoas esperavam por transplante. Em 2016, pouco mais de 2 mil pessoas morreram aguardando essa doação. Dessas, 82 crianças. A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) constatou que no mesmo ano, 10.158 pessoas tiveram morte encefálica e poderiam ter sido doadoras, mas 43% das famílias consultadas não deram a autorização. Entre os tabus, a insegurança com relação aos diagnóstico na morte do encefálico, não saber para onde vão os órgãos e o corpo mutilado.
Trabalhar para mudança
No país ocorrem capacitações entre os profissionais da saúde para encontrar novas formas de melhorar o manejo de potenciais doadores com morte encefálica, para que assim se otimize doação de órgãos. Estudos do Ministério da Saúde apontam que a taxa de recusa familiar no Brasil chega a 40%, sendo a falta de treinamento das equipes das UTIs um dos principais motivos da recusa.
“A recusa dos familiares acontece porque os profissionais de saúde não estão capacitados no momento de fazer o acolhimento. A não capacitação dos profissionais para realizarem a manutenção, o manejo clínico do doador da maneira mais adequada - de modo que o coração continue batendo até a retirada de órgãos – e a conversa com os familiares são extremamente importantes”, relatou Glauco Westphal, coordenador do projeto do Ministério da Saúde e médico intensivista.
A importância do médico é muito grande. Não se espera ouvir uma notícia de morte de outro profissional que não seja o médico. “A maneira como ele comunica, o tempo que ele disponibiliza para explicar a morte encefálica - que é complexa de ser compreendida pelas pessoas. Trata-se de um doente que está lá com o coração batendo e a pele quente. Eventualmente existe um reflexo medular que pode gerar um movimento e, para a família entender que apesar disso tudo ele está morto, é um papel delicado para o médico, ” ressalta a coordenadora do Sistema Nacional de Transplante do Ministério da Saúde, Rosana Nothen.
É necessário que seja compreendido que existem outros 4, 5, 6 pacientes que podem se beneficiar com esta atitude assistencial da equipe das Unidades de Terapia Intensiva. Rosana termina a entrevista com uma frase ecoa na mente. “A gente sebe que tem muito mais chance de se tornar um receptor do que um doador com morte encefálica. Precisamos ter esta consciência para salvar outras vidas”.
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