Brasil lidera o ranking de novas doenças na América Latina, aponta pesquisa
Entre os países da América Latina, o Brasil concentra o maior número de novas enfermidades surgidas nas últimas décadas. Das 27 identificadas entre 1940 e 2013, oito estão presentes no país. O dado é da EcoHealth Alliance, organização sem fins...
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19/04/2017 15:38
Entre os países da América Latina, o Brasil concentra o maior número de novas enfermidades surgidas nas últimas décadas. Das 27 identificadas entre 1940 e 2013, oito estão presentes no país. O dado é da EcoHealth Alliance, organização sem fins lucrativos que estuda doenças emergentes.
A maioria, no entanto, é pouco conhecida e tem impacto leve no país. É o caso do vírus Sabiá, que surgiu em 1990 e infectou apenas duas pessoas. A febre purpúrica brasileira, por outro lado, atingiu 38 pessoas e levou 27 delas à morte.
O infectologista Expedito Luna, professor na Universidade de São Paulo (USP) ressalta, porém, que é importante estar atento também às doenças chamadas de reemergentes. “São aquelas que já eram conhecidas, mas mudaram seu comportamento epidemiológico, atingindo novas regiões geográficas e diferentes populações”, explica.
Foi o que aconteceu com a leishmaniose visceral (LV) no Brasil. Conforme lembra Luna, até a década de 1980 ela fazia parte das “endemias rurais”. Inicialmente, existia nas regiões mais pobres do interior do Nordeste. Com a abertura de rodovias e maior circulação das pessoas, a doença deixou seu nicho original e emergiu também em capitais como Teresina e Fortaleza, até chegar a outras regiões do país. Hoje, a transmissão ocorre em todos os estados brasileiros. “Mesmo o surto atual de febre amarela no Sudeste também pode ser considerado como de uma doença reemergente”, alerta o especialista em infectologia.
Por que elas vão e voltam
Se por um lado o surgimento de novas tecnologias e tratamentos ajuda a diminuir o aparecimento de enfermidades ainda não conhecidas, por outro existem inúmeros fatores que favorecem a sua emergência – e reemergência em outros locais e contextos.
Um deles, como mostra o caso da LV, é a maior rapidez nas viagens e o aumento no volume de pessoas que se deslocam de um local para o outro. Esses são fatores também associados por Luna aos recentes casos da dengue, da chikungunya e da zika. O mesmo vale para as mudanças climáticas, a falta de acesso a serviços básicos de saneamento e o aumento na resistência de micro-organismos aos medicamentos disponíveis.
Além disso, com o desmatamento, a agricultura e a sistemática destruição de habitats naturais, o ser humano entra cada vez mais em contato com áreas até então pouco exploradas. No Brasil, com sua ampla diversidade ecológica, as chances de contato com patógenos desconhecidos aumentam e ajudam a explicar a posição do país na lista divulgada pela EcoHealth Alliance.
Para Luna, a manutenção de um sistema de vigilância em saúde que seja forte e atuante é a melhor garantia do Brasil para detectar doençasemergentes e reemergentes e, a partir disso, planejar seu controle de maneira eficaz. No entanto, não é essa a realidade que o especialista tem percebido, sobretudo nos recursos destinados para a área: ainda faltam investimentos não só em tratamento, mas, sobretudo, em prevenção.
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