Compreender o valor da jornada e abraçar a mudança. Abrir mão de si e apostar no futuro. Foi o que fez o estudante de medicina Matheus. Ele foi atrás do que não encontrava nos livros, mas que precisava saber para se tornar um bom médico.
Na tentativa de querer aprender com as diferenças, o futuro médico Matheus trancou a faculdade enquanto cursava o 5º semestre para morar em Londres. Mas ele não buscou a boemia na Inglaterra, queria experiências internacionais que lhe enriqueceriam a alma. Se inscreveu em uma ONG britânica que manda voluntários para o mundo todo, e se tornou o primeiro voluntário latino americano dessa organização não governamental. “Foi uma experiência fantástica. Fui enviado para o Camboja, onde fui professor de crianças de 8 a 10 anos. Por 30 dias, dei aulas de inglês, artes, cultura, matemática, além de participar de visitas domiciliares na comunidade para dar maior atenção às famílias."
O trabalho era realizado em conjunto com uma professora local que auxiliava com a tradução da língua para os voluntários estrangeiros. “Tínhamos duas turmas, uma de manhã e outra à tarde. A aula que oferecíamos era no turno complementar ao da escola pública”, relembra Matheus.
A miséria, o baixo nível educacional e a má qualidade do sistema de saúde de Camboja chamou atenção de Matheus pela semelhança com o Brasil. O estudante conta que até o carisma do povo lhe trouxe lembranças da terra natal. Entretanto, vivenciou as diferenças e contrastes do local em função da influência massiva da iniciativa privada britânica e australiana, da religião budista e das características da cultura oriental. “Tive diversas dificuldades para aprender a ser um professor de primário, principalmente em definir os tipos de atividades que realizaria com as crianças. Também não foi fácil me adaptar a andar de bicicleta em um trânsito pouco organizado como o de lá” afirma Matheus.
Enquanto esteve no Camboja, Matheus dormiu nos alojamentos da ONG. A comida diária era basicamente arroz, noodles, peixes, frango e vegetais. Para o estudante de medicina, a adaptação de uma cultura completamente diferente o tornou uma pessoa melhor, mais adaptável social e culturalmente. “Mudou minha vida completamente. Entender as diferenças de um país, da religião, cultura, situação social me tornou mais alerta para as condições do Brasil, mais crítico em relação às necessidades da população brasileira", destaca.
Já no Brasil, Matheus continuou no voluntariado, trabalhando, por quase dois anos, em uma ONG que leva alegria às crianças internadas no hospital Santa Casa. “Esse trabalho me mostrou que existe tratamento com carinho, utilizando o lúdico como terapia, além dos medicamentos. Mostramos para os pais das crianças hospitalizadas que o ambiente hospitalar era benéfico não só para o paciente como para os acompanhantes também”, afirma.
Mesmo após tantas experiências, Matheus segue buscando o seu melhor como ser humano, tendo a certeza que todo esse aprendizado será fundamental quando estiver apto a exercer a medicina e lidar com a vida de outras pessoas.
Jornalista Camila Ferro