A história centenária da gripe espanhola se transformou em exposição no Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul. Veja a matéria completa!
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07/12/2018 00:00
Em um misto de angústia e incerteza, Stine dá o tom da realidade vivida pelos médicos da época. Enquanto o mundo acompanhava os últimos meses da Primeira Guerra Mundial, via surgir uma epidemia ainda mais impiedosa que o campo de batalha: a gripe espanhola. Somente entre 26 de setembro e 6 de dezembro de 1918, o médico relata ter visto 1.020 estudantes de Medicina contraírem a doença.
Os números absolutos chocam ainda mais: estima-se que a gripe espanhola tenha sido responsável pela morte de, pelo menos, 40 milhões de pessoas em todo o mundo - em seus quatro anos de conflito, a Primeira Guerra Mundial acumulou cerca de 10 milhões de mortes.
Guerra e pandemia, aliás, acabam por se confundir em diversos momentos, como mostrou o Correio do Povo do dia 8 de novembro de 1918 ao trazer o relato do médico Renato Barbosa. Ele estava a bordo do La Plata e era membro da Missão Médica Brasileira, enviada à França com o objetivo de fundar um hospital em Paris e colaborar com os Aliados (Estados Unidos, França e Grã-Bretanha).
Ao chegar ao destino, os profissionais logo perceberam que o desafio que tinham pela frente era ainda maior. Barbosa relata que, depois da chegada, jantou e não quis sair, assim como outros 15 companheiros. Entre eles, apenas oito escaparam à gripe, que atingiu quase toda a Missão. “No ‘Bagé’, transporte de guerra, esplêndido navio que se incorporou ao nosso comboio em Dakar, houve a mesma epidemia, e foi combatida pelo quinino, em alta dose. [...] Entre nós o quinino foi inativo. Talvez medicamento velho”, escreveu ainda (Correio do Povo de 8 de novembro).
E NO BRASIL?
No Brasil, a doença era acompanhada a distância, apenas pelos jornais. Os milhares de quilômetros que separavam o País do continente europeu pareciam proteção suficiente - engano que custou caro.
Não demorou para que a pandemia chegasse às terras brasileiras e mudasse todo o cotidiano da população. O preço da galinha, indicada para fazer canja e auxiliar no tratamento, logo foi multiplicado. Foi preciso um decreto para evitar o abuso nos valores cobrados.
Em Porto Alegre, não foi diferente e a cidade se viu dividida, inicialmente, em 24 quarteirões, cada um deles atendido por um médico. Com o aumento da demanda, o número de quarteirões subiu para 33. A necessidade era tanta que até mesmo os doutorandos precisaram deixar a faculdade de lado e se dedicar ao cuidado com os
pacientes.
Dos 8.743 óbitos registrados no Rio Grande do Sul em 1918, 3.971 foram causados pela gripe espanhola. Na linha de frente do atendimento, mesmo que pouco se soubesse sobre a pandemia, os médicos acabaram se tornando figuras frequentes nas páginas de obituários. Enquanto tentavam uma cura ainda não inventada, eram logo convertidos em pacientes.
Foi esse também o destino do médico Carlos Oscar Mostardeiro. Formado em 1916, apenas dois anos antes da epidemia, disponibilizava nas páginas do jornal o endereço de sua residência – localizada nas proximidades da rua que hoje leva o sobrenome da família – e telefone, para que os doentes pudessem procurar atendimento. Ele era o responsável pelo 22º quarteirão, no terceiro distrito. Após os primeiros atendimentos contraiu a doença e acabou falecendo no dia 6 de novembro de 1918.
O médico Manoel José Pereira Filho, por outro lado, conseguiu sobreviver à gripe e foi um dos responsáveis pelo tratamento dos pacientes atendidos no Hospital Beneficência Portuguesa - que não foram poucos. Ao olhar o Livro de Registro de Enfermos da instituição, a gripe preenchia campo após campo da coluna de diagnóstico. Ao fim da epidemia, ele ganhou o diploma de sócio benemérito da instituição pelos serviços prestados aos pacientes.
CEM ANOS DA GRIPE ESPANHOLA EM EXPOSIÇÃO
No ano em que a epidemia completa seu centenário, o Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM) apresenta exposição que relembra o avanço da doença no Brasil e no mundo - com um recorte especial sobre Porto Alegre. A entrada é gratuita.
Endereço: Avenida Independência, 270, Centro, em Porto Alegre - RS
Horários: de terça a sexta, das 10h às 18h, e também nos sábados e feriados, das 14h às 18h
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