Este mês é marcado pela campanha Julho Verde, que conscientiza para os riscos do câncer de cabeça e pescoço. Embora seja um tumor de diagnóstico mais simples, a médica do serviço de Oncologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Bianca Marroni, alerta que muitas vezes os doentes demoram a buscar os serviços de saúde. “O que se vê, especialmente no SUS, é que os pacientes chegam com a doença já avançada, prejudicando, inclusive, o prognóstico.”
Quando falamos em câncer de cabeça e pescoço, nos referimos a tumores como de boca, língua, laringe ou garganta. De forma, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), eles já representam o segundo tipo mais frequente entre os homens, atrás somente do câncer de próstata. São mais de 18 mil casos diagnosticados anualmente. Longe de ser rara, a doença está associada em 97% das ocorrências a tabagismo e alcoolemia. "Não é que o gênero seja fator de risco, mas a doença está associada a hábitos de vida e, embora hoje homens e mulheres possam estar equiparados em consumo de cigarros e bebidas alcoólicas, ao longo dos últimos 20, 30 anos, eram hábitos mais masculinos”, explica Bianca.
Os principais sintomas desses cânceres costumam ser: alteração da voz, com rouquidão e mudança no padrão de fala, surgimento de nódulos na região e dor ao engolir ou para abrir a boca, inclusive prejudicando a alimentação e causando emagrecimento brusco. “Ao surgirem alguns destes sintomas de forma persistente, especialmente associados a emagrecimento e se a pessoa for fumante, deve-se buscar um médico”, salienta a oncologista. “Quando diagnosticados cedo, esses tumores têm boas chances de cura, seja através de cirurgia ou de tratamentos com quimio ou radioterapia.”
No caso dos fumantes, abandonar o vício é fundamental para o tratamento, e também para evitar novos tumores. “Tabagismo é um pré-requisito para diversos tipos de câncer. Não raro, após desenvolver um tumor de cabeça ou pescoço, o fumante tem outro na região ou mesmo em outros órgãos, como pulmão e bexiga”, observa a médica. Ainda de acordo com o Inca, mais de 50% dos pacientes com câncer continuam fumando durante o tratamento.
Outros fatores de risco
Além de fumar, o hábito de mascar tabaco também é fator de risco. Sabe-se hoje que o câncer de cabeça e pescoço está relacionado, em cerca de 30% dos casos, com um tipo de HPV. “Mas como o vírus é assintomático, o que ocorre é o diagnóstico inverso: descobre-se o papiloma a partir do tumor”.
Má higiene oral, alimentação pobre, fatores genéticos e outras infecções virais também podem estar associadas ao desenvolvimento de lesões. Assim como queimadura por sol pode ser fator desencadeante de carcinomas de lábios. Já o consumo de bebidas muito quente, como o hábito gaúcho do chimarrão, não é fator de risco para este tipo de câncer. “Isso estaria mais associado a cânceres mais baixos, como do esôfago”, explica a oncologista.