Medicina na comunidade: a história de quem faz a diferença, mesmo com pouco

É em um prédio simples e de aparência já desgastada pelo tempo, onde antes funcionava um restaurante, que a médica Jane Maria Camargo faz a diferença. Dia após dia, consulta após consulta. Para exercer a profissão, ela sai da região central de Pelotas e percorre 32 quilômetros até o Distrito de Vila Nova, na zona rural, onde está a unidade básica de saúde (UBS) de mesmo nome. Formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em dezembro de 1990, ela atua como médica de estratégia da saúde da família. Sua origem ajuda a explicar a escolha – embora a psiquiatria também tenha sua admiração e já tenha sido considerada. Filha de mãe solteira e empregada doméstica, Jane começou sem saber ao certo o que viria pela frente. Aos poucos, viu na profissão uma chance de estar perto da comunidade e facilitar a vida daqueles que nem sempre têm acesso a cuidados básicos. “Um bom médico tem que ser humano e isso passa pela empatia. Não por acaso, a gente sofre junto com as pessoas e se envolve com as dificuldades enfrentadas na hora do atendimento”, destaca. É assim que ela segue como a única médica da UBS Vila Nova. Enquanto isso, aguarda que o novo prédio da unidade fique pronto e possa deixar a rotina mais fácil.

Motivação para seguir

Estar em contato e conhecer a realidade de cada um de perto a motivam a seguir na profissão, apesar das dificuldades. Não raro faltam materiais básicos, sem falar nos problemas causados pela indisponibilidade de exames, que poderiam agilizar as consultas. Como ela mesma explica, atuar em comunidades menores tem seus desafios, mas também traz retorno. “No interior a gente precisa fazer de tudo, é um processo contínuo e de formiguinha. Às vezes parece pouco, mas sabemos que dá resultado. Sabe aquele ditado de que água mole em pedra dura tanto bate até que fura? É isso. Com o tempo, vemos as coisas sendo aplicadas”, explica a médica. O reconhecimento vem em forma de pequenos gestos. Um paciente que se lembra do conselho de quem ensina como o cigarro pode ser prejudicial. O abraço de agradecimento de quem recebeu ajuda profissional em um momento de desespero. É também a certeza de que o trabalho feito é capaz de melhorar a qualidade de vida e transformar a comunidade – ainda que a mudança seja lenta.