A descoberta de uma doença grave, o alto custo das medicações e as inúmeras dificuldades de consegui-las em pouco tempo através da rede pública. Todos esses motivos fazem com que muitas pessoas optem por grupos de doações de remédios nas redes sociais, uma espécie de balcão de trocas. Apesar dessa prática não ser considerada crime, sem estar sujeita a qualquer tipo de punição, a prática é proibida pelo Ministério da Saúde e advertida por profissionais da área.
De maneira geral, todos os medicamentos doados são remanescentes de pacientes que já estão curados ou de alguém que já tenha concluído o tratamento. A cuidadora Vânia Marques , moradora de Itatiba, interior de São Paulo, participa de um desses grupos e afirma que sem essa colaboração pelas redes sociais, muitas pessoas ainda estariam esperando para terem os medicamentos. “Eu conheci muitas pessoas que não conseguiram nem medicamentos simples para controlar a pressão arterial, pelas farmácias populares. Tenho certeza que as doações ajudaram muita gente”, diz Vânia.
De acordo com as normas dos tantos grupos existentes, todos os doadores exijam a receita do beneficiário. Apesar dessa regra, profissionais da saúde alertam para a origem dos remédios e a falta de prescrição médica. “Um grande problema é a dificuldade para termos certeza da origem desse medicamento, pois não está saindo de uma farmácia pública ou privada. Também não se tem a absoluta certeza de qual é a indicação, como foi essa prescrição e qual investigação diagnóstica foi realizada. Muitas vezes os sintomas são parecidos, mas o tratamento completamente diferente”, afirma a vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Maria Rita de Assis Brasil. A vice- presidente da entidade médica ainda reitera que é mais uma situação que comprova os problemas de distribuição dos medicamentos.
O Presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CREMERS), Rogério Aguiar, afirma que a falta de prescrição médica também é considerado, nesse caso, um dos maiores problemas dos remédios obtidos através dos grupos. “Nos preocupamos, primordialmente, com a preservação da prescrição médica exata. Como qualquer caso de automedicação, esses casos requerem muita cautela. Toda a atenção é pouca”, Adverte Aguiar.
Para Lúcio Flávio Gonzaga Silva, do Conselho Federal de Medicina, o mais preocupante nas doações é a banalização dos medicamentos. “O principal é que muitas pessoas procuram esses grupos sem terem passado pelos devidos exames para a prescrição médica. Isso acaba banalizando os remédios que não são indicados para aquele paciente”. Outra questão que Gonzaga explica, é a demora para diagnosticar. “A automedicação, que muitas vezes pode ocorrer nesses grupos, gera um atraso importante no diagnóstico. Portanto, o mais correto é sempre procurar o médico”, salienta.