Médicos superam dificuldades de comunicação para atender imigrantes
A presença de imigrantes e refugiados em busca de atendimento em hospitais e postos de saúde é crescente em todo país – no Rio Grande do Sul não é diferente - e já não surpreende os profissionais. No entanto, os...
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19/01/2017 09:00
A presença de imigrantes e refugiados em busca de atendimento em hospitais e postos de saúde é crescente em todo país – no Rio Grande do Sul não é diferente - e já não surpreende os profissionais. No entanto, os médicos se veem frente ao um novo desafio: superar com criatividade, sensibilidade e dedicação a barreira da comunicação. Afinal, é difícil agir em situações em que os pacientes não entendem a língua portuguesa e apresentam resistência ao tratamento por motivos religiosos.
O médico e chefe do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eugênio Grevet, passou por essa experiência. Ao atender um senegalês teve dificuldades na comunicação no momento da consulta. “Ele falava um dialeto africano e não tínhamos ninguém no Clínicas (HCPA) que entendesse a linguagem. Por sorte, temos um funcionário que fala árabe e isso facilitou um pouco o atendimento, mas na maior parte do tempo, os gestos foram a nossa ferramenta de trabalho”, conta Grevet.
Outra barreira enfrentada pela equipe foi a religião. Muçulmano, o paciente teve resistência ao diagnóstico e ao tratamento da patologia. “As doenças psicológicas, na religião do senegalês, têm uma simbologia particular. Ele dizia que a doença era um problema espiritual”, lembra o médico. O grupo que atendeu o paciente buscou informações junto à Universidade do Senegal e também em artigos na internet para entender a cultura e poder prescrever a medicação, além de convencê-lo da necessidade do tratamento.
“Conseguimos o consenso e ele aceitou as medicações”, conta o médico residente Fernando Henrique de Lima Sá, que ajudou no tratamento. Entretanto, logo que saiu do hospital, o rapaz retornou ao Senegal, por não conseguir se adaptar ao Brasil, mas com recomendação de continuar usando as medicações.
Os próprios imigrantes compartilham da opinião de que a dificuldade de comunicação é o principal obstáculo durante as consultas. “Na maior parte das vezes, a dificuldade entre o médico e o imigrante acaba sendo a comunicação, até mesmo para aqueles que vieram de países que falam português, pois utilizam termos diferentes. O tempo de explicar o que estamos sentindo faz com que o médico demore um pouco mais para diagnosticar a doença”, explica o presidente da Associação dos Senegaleses de Porto Alegre (ADSPOA), Mor Ndiaye.
Segundo o presidente, também já ocorreu a negativa de pacientes em atender a prescrição. Ele lembra de um episódio em que um jovem não deixou que a médica aplicasse uma injeção. “O imigrante foi consultar no Postão da Cruzeiro e precisou tomar uma injeção, mas ele não deixou que uma mulher aplicasse na nádega. Par nós isso é muito íntimo. Foi preciso providenciar um enfermeiro para aplicar o medicamento”, conta.
Essas pequenas vitórias são resultado do atendimento atencioso, dedicado e criativo das equipes médicas em diferentes unidades de saúde.
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