Em entrevista ao programa Esfera Pública de 11 de outubro, da Rádio Guaíba, o prefeito Nelson Marchezan se dirige de forma desrespeitosa aos funcionários do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf), incluindo os 73 médicos que lá atuam. Ele desconsidera que estes servidores são intimamente vinculados às comunidades e não toleram mais as ofensas oriundas da autoridade máxima do Executivo municipal.
Ao reiterar sua posição de repúdio às declarações de Marchezan, o presidente do Simers, Marcelo Matias, responde ponto a ponto às falas do prefeito e complementa com informações sobre o foi perguntado na ocasião: “Prefeito, eu gostaria que o senhor conhecesse melhor o Imesf e seus trabalhadores. Quando o senhor ampliou o horário de atendimento, esta ampliação foi feita com estes funcionários. Se o senhor não acha que ofende, então não vai ficar ofendido, porque o senhor trata seus funcionários como gado. Mas quem quer construir um futuro melhor, constrói parcerias, constrói pontes. E vou de novo lhe chamar para um debate, quando o senhor quiser. Mas se tiver de ser assim, seguirei respondendo, porque estaremos sempre ao lado dos médicos. Porque o Simers faz”.
Foto: Maria Ana Krack / PMPA
Marcelo Matias – “Prefeito, os funcionários do Imesf não pararam de trabalhar por causa de uma decisão do STF, mas pela forma com que o senhor se manifestou, dizendo que estes mesmos funcionários tratam a população como gado. É impossível trabalhar quando a gente tem o desrespeito do nosso gestor. Estes funcionários são fundamentais para a saúde de Porto Alegre e estão intimamente ligados às comunidades e foram tratados com desdém e com desrespeito pela sua gestão. Justamente por isso que eles pararam, porque o senhor, em vez de buscar uma solução adequada, o senhor partiu para o ataque e deu uma solução pronta. Até aquele momento, o senhor não havia mudado a sua posição, o que parece que mudou. Pois agora o senhor entrou com embargos no STF”.
Matias – “Quando o senhor assumiu a gestão, o Moinho de Vento fazia a gestão do Hospital da Restinga, e um dos maiores orgulhos da sua gestão é ter tirado o Moinhos de Vento da Restinga e ter entrado o Vila Nova. O senhor diz que quer botar o Instituto de Cardiologia na vila, mas o senhor desconhece que o Instituto de Cardiologia já fez a gestão dos postos de saúde desta cidade. Levar a gestão não tem absolutamente nada a ver com levar atendimento, porque eu lhe pergunto, o que o senhor quer dizer é que um indivíduo que não tem convênio vai poder entrar em um hospital como o Moinhos de Vento e ser atendido na emergência paga pela prefeitura de Porto Alegre, ou o seu único objetivo é atacar os médicos e demais profissionais que fazem o atendimento na periferia da nossa cidade. A população mais carente não terá, acredite em mim, atendimento nos hospitais particulares sem referência”.
Matias – “Prefeito, nós temos dito isso de longa data: as unidades de saúde de Porto Alegre não têm a menos condições adequadas de atendimento. E, por isso, fizemos vistorias, por isso temos mais de 40 relatórios, que o senhor faz questão de não responder. Mas é interessante, quando da gente faz estas vistorias em nome da população, a sua gestão, prefeito, fecha as portas. Faz uma notificação que proíbe a nossa entrada, portanto, prefeito, eu vou concordar com o senhor, as nossas unidades não têm condições adequadas de atendimento. Elas são velhas, são sujas, elas não têm manutenção. E a culpa é sua”.
Vistoria realizada pelo Simers no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (maio de 2019)
Matias – “Por que, prefeito, o senhor não fez isso até agora? Por que o senhor, simplesmente, fez um corte do futuro salário das pessoas que atendem à população de Porto Alegre? Por que, em vez de buscar o conflito, o senhor não botou em prática a sua própria ideia? Ofereça, sim, mais para quem trabalha mais, cumpra aquilo que o senhor fala.
Matias – “Está provado que o senhor não tem a menor ideia do que está falando quando diz respeito à Saúde, e que o senhor não conhece os seus trabalhadores. Porque, se conhecesse, faria justamente isso que o senhor disse que os hospitais de ponta fariam: contrataria eles mesmos. Estes profissionais, sim, sabem fazer o atendimento à população. E o senhor, e a sua gestão não têm a menor ideia do que significa isso”.
Presidente do Simers, Marcelo Matias, fala em nome dos médicos
Matias – “Prefeito, confiança a gente não pede, a gente conquista com um conjunto de atos e intenções. E os seus atos contra estes trabalhadores, que foram atos por omissão, porque não tomou uma conduta quando sabia que iria acontecer no Imesf o que aconteceu. Por omissão, quando deixou fechar o pronto atendimento desta cidade, porque deveria ter feito a contratação e não o fez. Mas também por atos, quando agrediu pessoalmente a honra destes funcionários, fazem com que estes trabalhadores não tenham muitas justificativas para acreditar na sua palavra. O que a gente precisa neste momento é de alguém que fale a verdade, que faça parceria, que crie debates, que ceda, que exija coisas que possam ser cumpridas e que ofereça condições mínimas de trabalho, de remuneração e de segurança”.
Matias – “Quando a prefeitura ganhou um hospital de presente, que é o Hospital Santana, isso não foi mérito seu, foi uma negociação que incluiu a saída do Mãe de Deus do município ao lado. Têm pessoas que confundem sorte com capacidade de gerenciamento”.
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