Para realizar estudos, durante muito tempo as universidades brasileiras dependeram de cadáveres que permaneciam sem identificação ou não eram reclamados nos Institutos Médicos Legais (IML). Não apenas o curso de Medicina, mas todos os profissionais das diversas áreas da saúde (enfermagem, nutrição, biomedicina, fisioterapia, etc.) devem ter conhecimento profundo da anatomia humana para o futuro exercício de suas profissões. Além disso, o contato com o cadáver tem um aspecto que não é só de ensino, mas de formação. A proximidade com o cadáver é uma forma de perceber as limitações e de enfrentar a morte como um fato da vida, essencial para quem atua na área da saúde.
Na maior parte das universidades brasileiras, os cadáveres utilizados para dissecação são, em sua maioria, corpos não reclamados, obtidos através de um complexo processo, que acaba por restringir, significativamente, o número de corpos disponíveis para estudo. Sem cadáveres há o risco de formar profissionais que não concluíram adequadamente esta etapa fundamental para sua formação.
Para a médica cirurgiã geral, professora adjunta de anatomia da UFCSPA e coordenadora do Programa de Doação de Corpos para o Ensino e Pesquisa em Anatomia, Andreia Oxley da Rocha, a maior parte das universidades brasileiras tem carência de corpos para estudo e opta por usar bonecos modelos afetando a qualidade do aprendizado. “A burocracia para doação de corpo é grande, mesmo assim hoje temos mais de 400 pessoas cadastradas em vida no programa da universidade. Recebemos uma média de 10 corpos por ano o que é o suficiente para os nossos estudos”, explica.
Mas nem sempre foi assim. Os cadáveres utilizados para estudos anos atrás eram oriundos do Instituto Médico Legal, aqueles que não tinham identificação ou não eram procurados por alguém. Com a queda no volume de doações a UFCSPA criou o programa em 2008, alertando a importância da doação de corpos.
Como doar
Pessoas interessadas em doar o corpo para estudos da UFCSPA devem entrar em contato pelo número 51. 3303.8727 ou através do e-mail doacaodecorpo@ufcspa.edu.br para receber orientações referentes a documentação e ao cadastro que deve ser feito como doadores em vida. Após, é registrado documento em cartório para assim ser cadastrado no Programa de Doação de Corpos para o Ensino e Pesquisa em Anatomia recebendo uma carteirinha de doador de corpo.
Quando ocorrer o falecimento, a família entra em contato com a universidade que buscará o corpo onde ele estiver. “É como a doação de órgãos na questão da legislação, porque quem decide é a família, mesmo com a documentação toda registrada. Por isso é importante avisar a família do desejo dessa doação, tem que ficar acordado antes com a pessoa em vida porque não adianta fazer a documentação e chegar na hora da doação a família dizer que não quer doar”, conclui Andreia.
- Após a publicação desta reportagem, recebemos o comunicado que a Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) está precisando de doação de corpos. Para saber como doar para a UNISC, acesse www.unisc.br