Depressão em idoso: por que ocorre?
A Luta

Depressão em idoso: por que ocorre?

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27/04/2017 07:30

Há quem viu o rádio ser criado, acompanhou a entrada dele no Brasil, viu surgir o micro-ondas, a televisão, o vídeo cassete, enfrentou a ditadura e chegou a pensar que teria disposição para sempre. Mas a idade chegou, o corpo doeu, a vontade de realizar sonhos atenuou. Enfim, envelheceu. Esta é a realidade de aproximadamente 841 milhões de idosos no mundo. Segundo projeções da Organização Mundial da Saúde, em 2020, haverá mais idoso do que criança de até 5 anos. Até 2050, serão 2 bilhões de anciões, que significa 20% dos habitantes da Terra. Fato que se deve a mudanças acentuadas após a década de 1960, como a redução na taxa de crescimento populacional, o declínio expressivo nos níveis de natalidade, resultando na inversão da pirâmide etária.
Piramide populacional do Brasil de 1980 e de acordo com a projeção baixa de população para 2080.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 75% dos idosos são classificados como independentes, 20% frágeis (com alguma incapacidade), 4% são doentes e 1% vive em Instituições de Longa Permanência (ILPIs), conhecidos antigamente como asilos. Conforme o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 20 cidades brasileiras com maior concentração de pessoas acima dos 60 anos, 18 são do Rio Grande do Sul, o que torna o Estado possuidor da maior população de idosos do Brasil. O município de Coqueiro Baixo, distante 171 quilômetros de Porto Alegre, no Vale do Taquari, lidera o ranking das cidades de maior concentração de pessoas acima de 60 anos. Com quase 1500 habitantes, mais de 29% são idosos. Conforme Informação Demográfica e Sócioeconômica da População Idosa da Capital do RS, o grupo que mais cresce em Porto Alegre é da população idosa. Houve um aumento de 32% deste grupo se comparados os anos de 2000 e 2010. Em 2000 representava cerca de 11,80% dos habitantes (160.541), já em 2010 alcançou 15,04% dos habitantes (211.896). Porto Alegre é a capital brasileira com maior proporção de idosos seguida do Rio de Janeiro com 14,89%. Isso significa que existe um novo desafio a enfrentar: o crescimento acelerado das pessoas com mais de 60 anos, que não é acompanhado pela implantação de políticas públicas na área da saúde. O envelhecimento faz com que a frequência de doenças aumente, sendo isso o maior fator de risco para determinadas enfermidades. É o que defende a presidente da Associação Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Berenice Werle. “São doenças crônicas não transmissíveis que vão aumentando com a idade. É importante que o Sistema de Saúde se prepare, que o sistema social se prepare, que as famílias se preparem, porque elas são o suporte dessas pessoas“.

Fazer o bem olhando para quem

Carmem Lia
Carma Lia, de 78 anos, esbanja alegria e disposição.
A curiosidade somada a um sonho levou dona Carmem Lia, 78 anos, a trabalhar no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. Há 40 anos, ela passava de ônibus na frente dos prédios e se imaginava atuando no complexo. Foi quando surgiu a oportunidade, através de um chamamento na televisão para atuar como voluntário. Carmem não pensou duas vezes e compareceu no local, onde atua até hoje. “Quando eu passava na frente do São Pedro, eu tinha curiosidade de conhecer aquele enorme complexo. Todos me diziam que era um perigo entrar naquele hospital de doentes mentais, mas toda a vez que eu passava me aguçava a vontade de estar lá“. Após dois dias de testes realizados, Carmem Lia foi selecionada para ajudar no cuidado dos pacientes que viviam no estabelecimento assistencial.  Se apaixonou pelo trabalho, pois sentia que, com sua atenção e apoio, contribuía para melhora da satisfação dos internos, de quem não podia fazer quase nada por si mesmo. Gostava de ver alegria no rosto dos enfermos da unidade. Hoje Carmem Lia, além de atuar no Hospital Psiquiátrico São Pedro – como voluntária – também é presidente da Sociedade de Apoio ao Doente Mental (Sadom). Além de ajudar os outros, Carmem zela o marido, que tem 80 anos e se encontra triste em casa, desde que se aposentou. “Meu marido não sai de casa há 16 anos. Está com depressão. Mas cá entre nós, não é qualquer um que chega aos 80 anos. Ele tinha mais é que aproveitar, mas está assumindo a idade”, desabafa. Para o médico neuropsiquiatra geriátrico, João Senger, com o envelhecimento, há diminuição de neurotransmissores (substâncias que fazem a ligação entre os neurônios) ligados aos aspectos afetivos, à atenção e à memória. “O idoso é mais predisposto à depressão devido já ter sofrido perdas importantes, uma doença crônica, conflitos de relacionamentos com filhos, dificuldades financeiras, perdas físicas como diminuição de força, incapacidade para determinadas tarefas, etc”. Já são poucos os programas voltados para a saúde do corpo na velhice, e mais negligenciada ainda é a atenção à saúde mental do idoso. O corpo libera menos melatonina (que induz o sono), e a flacidez muscular dificulta a respiração, principalmente durante o sono, comprometendo a qualidade do repouso. “Devemos diagnosticar cedo e iniciar o tratamento o mais precoce possível, com psicoterapia e, alguns casos, associar antidepressivos. Deve-se melhorar o suporte para pessoa que envelhece e incentivar o convívio familiar e socialização do indivíduo” destaca Sanger.
Tags: saúde do idoso Depressão Idosos

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