"Saúde Mental na Residência"
(04/02/2023, Jornal Correio do Povo)
Um projeto piloto para prevenção em agravos de saúde mental deve ser apresentado nas próximas semanas à Comissão Estadual de Residência Médica do Rio Grande do Sul, órgão que regula todos os programas de residência do Estado. Se aprovada, a iniciativa, coordenada pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), será inédita no Brasil. O psiquiatra e diretor-geral do Simers, Fernando Uberti, explica que o projeto é uma resposta a uma demanda de entidades e instituições com atuação médica.
"Começamos a ser procurados por preceptores e médicos que relataram preocupação com a situação de agravamento da saúde mental dos médicos residentes, tanto por meio de afastamentos como pelo consumo de depressivos, substâncias do transtornos de ansiedade e até casos mais impactantes, como suicídios", comentou. O projeto prevê um diagnóstico anual. A partir dos resultados, os métodos serão melhorados e o escopo pode ampliar e integrar programas de residência médica.
Qual é o nome do projeto e como ele começou?
O projeto ainda não tem um nome definido porque achamos prematuro denominá-lo sem aprovação prévia pela Comissão Estadual de Residência Médica do Rio Grande do Sul. O tema já vinha sendo trazido, mas com mais força a partir de 2020, quando começou a pandemia. Fomos procurados por médicos residentes que estavam muito preocupados com a situação dos colegas, ou médicos preceptores, que estavam preocupados com a situação dos seus alunos. Eles relataram muitos quadros de transtorno de ansiedade, aumento de episódios depressivos e consumo de substâncias para aguentar a rotina de trabalho, já que os residentes trabalharam muito na linha de frente no combate à doença, e até suicídio, que aumentou significativamente nos últimos anos entre residentes. Então, o Núcleo de Psiquiatria do Simers decidiu desenvolver um projeto de prevenção do agravo da saúde mental dos residentes para os programas de residência médica.
Quais entidades participaram da elaboração?
Apresentamos um esboço da nossa ideia para a Comissão Estadual de Residência Médica do Rio Grande do Sul. Eles ficaram satisfeitos e nos responsabilizaram para seguir com a proposta. No entanto, não tínhamos uma consistência técnica. Para isso, criamos um grupo técnico formado por representantes da Associação Brasileira de Psiquiatria, Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, Associação Médica do Rio Grande do Sul, Departamento de Saúde Mental da PUCRS. Também convidamos alguns pesquisadores isoladamente, que já têm trabalhos bem consistentes a respeito de saúde mental entre estudantes. Esse grupo realizou uma série de reuniões onde acabamos formatando esse projeto, concluído recentemente e agora nas próximas semanas, vamos apresentar na plenária da Comissão Estadual de Residência Médica.
No Brasil, não há um projeto dessa abrangência e com o apoio de tantas entidades importantes da área médica. Se for aprovado, começaremos a implementação. Um dos intuitos é deixar os residentes mais à vontade para buscar um atendimento especializado, aproximando-os desses instrumentos de ajuda.
Apesar do projeto ainda não ter começado, há alguma estimativa sobre quais grupos de residentes são mais atingidos por problemas de saúde mental?
Ainda não podemos comprovar com dados, mas a nossa percepção inicial indica que são os que integram programas de residência com nível de exigência mais alto em termos de carga horária. Os que sentem mais exigência também por parte de professores e de preceptores. De uma forma geral, as especialidades que lidam diretamente com a morte com situações limite em ambientes hospitalares, como as áreas cirúrgicas, de ortopedia e traumatologia.
Há estudos preliminares que evidenciem algum aspecto deste tema?
O máximo que nós já tivemos foram alguns projetos a nível de instituição dentro de um programa de residência médica dentro das universidades, mas não temos um projeto com abrangência estadual e validado por tantas instituições. Nós temos alguns estudos isolados, que mostram prevalências de doenças psiquiátricas em residentes que atuam em instituições, em hospitais, mas nós não temos estudos que mostrem a situação atual do Rio Grande do Sul, onde há um universo de cerca de 2 mil residentes. Inclusive um dos objetivos desse projeto piloto é justamente estabelecer uma aproximação com os médicos residentes para coletar dados e, a partir disso, traçar um perfil epidemiológico e estabelecer ações mais verdadeiras e efetivas.
Caso aprovado, como será a realização do projeto?
Pretendemos apresentar um diagnóstico anual a partir dos dados coletados e analisados. A partir dos resultados, iremos melhorar a metodologia de execução para buscar aperfeiçoar o projeto.
O Simers utiliza cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para melhorar a experiência de usuário. Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.